Nem Tudo é o que Parece

Existem filmes que são muito mais interessantes em função da maneira pela qual eles contam suas histórias, que propriamente pela história contada. Nem Tudo é o Que Parece é um destes filmes. Uma rápida olhada na sinopse se mostra pouco animadora: a trama fala de um traficante (cujo nome nunca é revelado) que enriqueceu graças aos seus negócios movidos a ecstasy e cocaína, e que agora quer se aposentar para curtir a vida. Obviamente, seu patrão lhe encomenda a famosa “última missão” da qual ele não poderá escapar. Tem sabor de clichê, certo? Pois é: nem tudo é o que parece. Se o roteiro do estreante J.J.Connolly (baseado em seu próprio livro) não chega a ser exatamente uma novidade, a direção do também estreante Matthew Vaughn chama a atenção. Buscando ângulos de câmera inusitados, usando e abusando do típico humor cínico dos britânicos, e trabalhando a montagem com destreza e habilidade, Vaugh nitidamente usa todas as lições que aprendeu quando produziu Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch – Porcos e Diamantes. Sim, porque ele pode estar estreando agora na direção, mas como produtor esteve totalmente envolvido nestes dois sucessos, dos quais claramente bebe na fonte do estilo.
Quem gostou de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e de Snatch- Porcos e Diamantes certamente também vai curtir Nem Tudo é o Que Parece. Eles parecem até uma trilogia, com vários pontos em comum: trama ambientada no submundo, personagens brutos, amorais e divertidos, altas doses de sarcasmo inglês, estilo cinematográfico apurado e uma forte crítica contra a indústria do crime.