“NERUDA” TEM MUITO POUCO DE NERUDA.

Por Celso Sabadin.

Depois dos excelentes “O Clube” e “No”, o diretor chileno Pablo Larrain escorrega ao fazer de “Neruda” um joguinho simplificado de gato e rato, carregado de maneirismos. Ao valorizar mais os penduricalhos estéticos que propriamente o conteúdo dramático, Larrain fez de “Neruda” um exercício visual onde a estilização vazia acabou por sobrepujar as diversas camadas de leitura que a vida do consagrado poeta poderia render. Sobram planos mirabolantes com a câmera girando em círculos ou semicírculos, sobram luzes naturais e artificiais invadindo as lentes para cegar nossas vista, sobram interpretações caricatas, esbanjam-se estilizações na direção de arte, mas falta algo que jamais poderia faltar num filme que leva Neruda no próprio título: alma.

O roteirista Guillermo Calderón, habitual colaborador de Larrain, mas fazendo aqui seu primeiro voo solo, optou pelo recorte de tratar a trajetória do protagonista como uma grande fuga policial movida a orgulhos pessoais. É pouco.

Apesar da predominância da espetacularização da forma sobre as sutilezas do conteúdo – ou talvez por isso mesmo – “Neruda” tem recebido várias premiações internacionais, incluindo uma indicação ao Globo de Ouro de filme estrangeira. A estreia é nesta quinta, 15 de dezembro.