NIGERIANO “OTITI” EM EXIBIÇÃO HOJE NA MOSTRA DE CINEMAS AFRICANOS.

Por Celso Sabadin.

Produzido pela Nigéria, em parceria com a norte americana Clocktower (a mesma do documentário “JFK Assassination: Declassified Theories”, exibido com sucesso no recente festival É Tudo Verdade), o longa “Otiti” é um dos destaques de hoje da Mostra de Cinemas Africanos, em cartaz em São Paulo e Curitiba.

Otiti (Gina Castel) é uma costureira em profundo processo de transformação pessoal. Seu namorado quer se casar com ela, e ter filhos. Ela não quer. Uma amiga lhe acena com uma grande oportunidade profissional, mas para isso Otiti precisa localizar sua certidão de nascimento, extraviada em algum momento de sua vida. Ela hesita. E, potencializando seu turbilhão emocional, Otiti se encontra com seu pai biológico, que jamais conhecera. E ele precisa dela.

Não é pouca coisa. Vivenciando toda esta encruzilhada de sentimentos e sensações, de passados escondidos e futuros incertos, a protagonista terá de superar seus medos e inseguranças – que não são poucos – para tentar se encontrar plenamente como pessoa. Uma tarefa nada fácil para uma mulher solitária diante de uma sociedade machista.

Mesmo na condição de segundo maior produtor do mundo (atrás somente da Índia), o cinema nigeriano é desconhecido fora da África. Desta forma, a Mostra de Cinemas Africanos se constitui numa curiosa e bem-vinda janela para quem tem a curiosidade de tomar contato com outras formas audiovisuais de criação e produção.

“Otiti” é uma interessante espiada nesta janela. Ao mesmo tempo em que o longa se mostra competente em suas questões técnicas, nota-se uma certa simplicidade narrativa que seria preconceituoso, dentro do nosso olhar eurocêntrico, adjetivar como negativa, ou mesmo ingênua. Prefiro classificá-la de estilo.

O drama da protagonista tem fluidez através do roteiro que Chijioke Ononiwu desenvolveu a partir do argumento de Ema Edosio, também diretora do filme. Ela está no Brasil para o evento.

A direção de arte e a fotografia explodem em cores fortes e vibrantes, coerente com o que nós, que só conhecemos a África através de olhares estrangeiros, esperamos do continente. Só é difícil mesmo absorver um insistente e repetitivo tema musical que permanece em looping durante quase a totalidade do filme.

 

Mais informações sobre a Mostra

A edição presencial da Mostra de Cinemas Africanos 2022 será realizada simultaneamente em São Paulo (SP), de 6 a 20 de julho, e Curitiba (PR), de 7 a 13 de julho. O evento reúne cerca de 50 títulos de 20 países africanos, com destaque para a produção feminina e filmes inéditos no Brasil, além de atividades paralelas como debates, masterclasses e painéis com a presença de convidados do continente. A mostra traz ainda a exibição de curtas online para todo o Brasil, realizada pelo Sesc São Paulo. A programação circula por seis espaços da capital paulista – Cinesesc, Sesc Avenida  Paulista, Goethe-Institut, Cinusp e Circuito Spcine (Sala Lima Barreto e Biblioteca Roberto Santos), com exibições de filmes e atividades paralelas. Os ingressos variam de entrada gratuita a R$ 24,00 a sessão. Mais informações no site mostradecinemasafricanos.com.

Entre os destaques deste ano estão o thriller sul-africano “Boa Senhora”, de Jenna Bass e Babalwa Baartman. Comentário sobre as relações raciais na África do Sul pós-apartheid, teve sua estreia premiada no Festival de Toronto e abre a programação da Mostra com a presença das realizadoras. “Sobre a Água” marca a estreia na direção da franco-senegalesa Aïssa Maïga, que vem à capital paulista para apresentar seu documentário. Nome de destaque no cinema francês, Aïssa acumula uma extensa carreira como atriz, roteirista e ativista. No filme, a cineasta registra os efeitos das mudanças climáticas e da globalização em uma aldeia do Níger.

Fazendo sua estreia mundial na Mostra de Cinemas Africanos, “Otiti”, da nigeriana Ema Edosio, segue a história de uma costureira que assume a responsabilidade de cuidar do pai doente que a abandonou quando criança. Ema também vem ao Brasil para apresentar uma masterclass sobre sua experiência como realizadora independente na Nigéria. Do Quênia, a comédia inédita “Contos da Cidade Acidental”, de Maimouna Jallow, mostra um eclético grupo que se reúne online para uma aula de controle de raiva.

“Nós”, de Alice Diop, é um documentário que foca em seis mulheres que transitam em uma ferrovia que cruza Paris, incluindo a própria cineasta. Ambientado na periferia da capital do Chade, o drama “Lingui”, de Mahamat-Saleh Haroun, acompanha a busca de uma mãe e sua filha de 15 anos condenadas pela religião e pela lei por buscarem uma clínica de aborto para a adolescente.

Ao todo serão apresentados 28 longas, 15 da seleção oficial da curadoria de Ana Camila Esteves e Beatriz Leal Riesco que serão exibidos no Cinesesc e 13 da programação alternativa no circuito Spcine, feita em parceria com o Instituto Francês. A programação também recupera títulos de outras edições e traz clássicos como “Samba Traoré” (Burkina Faso, 1992) e cópias restauradas de “Câmera da África” (Tunísia, 1983) e “Mandabi” (Senegal, 1968).

“A Mostra de Cinemas Africanos volta às salas de cinema em grande estilo para celebrar o maior festival de cinema africano do Brasil”, destaca a diretora do festival, Ana Camila. “A programação amplia seu alcance e relevância ao trazer realizadores africanos ao país e promover as cinematografias do continente entre os públicos brasileiros”, complementa.

 

CONVIDADOS E SESSÕES ESPECIAIS

A Mostra esse ano traz nove convidados internacionais, entre cineastas, pesquisadores e curadores. Além das realizadoras Ema Edosio, Aïssa Maïga, Maimouna Jallow, Jenna Bass e Babalwa Baartman, o documentarista camaronês Jean-Marie Teno, um dos nomes mais importantes da história dos cinemas da África, estará presente para apresentar seu longa “Afrique, je te plumerai”, que em 2022 completa 30 anos. Em São Paulo, Teno também fará parte de uma conferência sobre a trajetória do documentário nos cinemas africanos no Cinusp, ao lado dos professores e pesquisadores Alexie Tcheuyap (Camarões) e Sada Niang (Senegal). Já em Curitiba, o cineasta oferecerá uma masterclass sobre sua trajetória como documentarista na África, além de exibir curtas do projeto Patrimoine-Heritage, resultado da formação de jovens documentaristas no Camarões sob a sua supervisão.

São Paulo e Curitiba irão promover encontros com debates, mesas-redondas e conversas com as cineastas convidadas, que giram em torno de reflexões sobre o fazer fílmico no continente africano e possibilidades de colaboração com o Brasil. Todas estas atividades serão presenciais.

 

Mostra de Cinemas Africanos 2022

Programação São Paulo (SP), de 6 a 20 de julho:

CineSesc São Paulo (R. Augusta, 2075 – Cerqueira César)

Cinusp (R. do Anfiteatro, 109) – programação alternativa

Circuito Spcine: Sala Lima Barreto (CCSP – Rua Vergueiro, 1000) e Sala Roberto Santos (Rua Cisplatina, 505: programação alternativa)

 

Programação Curitiba (PR), de 7 a 13 de julho:

Cine Passeio (R. Riachuelo, 410);

Cinemateca de Curitiba (Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174).

Sesc Digital (curtas online): sesc.digital