“NO CORAÇÃO DO MUNDO”, RETRATO HUMANO E DESPOJADO DE VIDAS SEM FUTURO.

Por Celso Sabadin.
 
Existe um estilo de cinema – não sei se já devidamente definido e batizado pelos estudiosos – que me agrada muito. Trata-se daquele tipo de filme em que parece, num primeiro momento, que “não acontece nada”, como dizem, mas que gradativamente vai conquistando nossas atenções e empatias principalmente em função do talento que demonstram para compor profundos e realísticos retratos sociais e psicológicos de seus personagens e de suas relações entre si e entre o meio em que vivem. São aqueles filmes em que as pessoas falam e agem tão normalmente, tão cotidianamente, sem afetações dramáticas, que o espectador perde a noção de estar vendo uma ficção ou um documentário. Fica-se sem saber quem efetivamente é ator profissional, e quem é gente do lugar interpretando a si próprio. Se é que está interpretando. Quando menos se percebe, apaixona-se pelos protagonistas.
O coletivo mineiro Filmes de Plástico é mestre na realização deste tipo de obra, como já foi comprovado em obras premiadas como Baronesa, Ela Volta na Quinta e Temporada, entre outros. O mais recente longa desta vertente é “No Coração do Mundo”, escrito e dirigido por Gabriel Martins e Maurílio Martins.
 
Depois de participar do Festival de Roterdã, “No Coração do Mundo” chega ao circuito brasileiro para investigar com acidez e poesia a vida de um grupo de habitantes da periferia de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte.
 
Entre interessantes subtramas paralelas, a linha narrativa básica do filme se desenvolve entre Marcos, sua namorada Ana, e uma antiga conhecida de Marcos, Selma. Cada um leva a vida como pode, diante das dificuldades da periferia. Ana é cobradora de ônibus, e não suporta mais seu cotidiano repetitivo. Selma vende serviços fotográficos para escolas, e Marcos se equilibra na perigosa linha da marginalidade. Linha que pode ser definitivamente rompida por esta trinca de personagens exauridos de viver sem perspectivas de futuro. Interessante notar como, no filme, as questões religiosas e criminais transitam livremente, sem o menor constrangimento ético ou moral.
Os diretores já haviam trabalhado juntos em curtas-metragens da produtora Filmes de Plástico, da qual fazem parte junto ao cineasta André Novais Oliveira e o produtor Thiago Macêdo Correia, há dez anos. A partir dos curtas “Contagem” e “Dona Sônia pediu uma arma para seu vizinho Alcides”, que foram filmados no mesmo bairro da cidade mineira de Contagem, surgiu a ideia do novo roteiro. As histórias dos personagens Ana e Marcos, que haviam aparecido no curta Contagem, voltam a ser contadas e interpretadas pelos mesmos atores: Kelly Crifer e Leo Pyrata. Já o papel de Selma coube a Grace Passô (de “Temporada”), que novamente dá um impressionante show de interpretação.
Selma e executarem o plano que pode mudar suas vidas para sempre.
Entre os próximos projetos da produtora estão os longas-metragens Marte Um, dirigido por Gabriel Martins (em pós-produção), e O Último Episódio, dirigido por Maurilio Martins, e E os meus Olhos Ficam Sorrindo, dirigido por André Novais Oliveira, ambos com previsão de filmagem para 2020.
Fique de olho.