NO FILME DE GUERRA “UMA VIDA OCULTA”, MALICK FILMA A PAZ.

Por Celso Sabadin.
 
Conhecido pelos seus filmes “A Árvore da Vida”, “Além da Linha Vermelha”, “O Novo Mundo”, e também muito pelos seus preciosismos estéticos, Terrence Malick busca novamente uma espécie de encantamento sonoro-visual-hipnótico em seu novo trabalho “Uma Vida Oculta”.
A partir de um caso real, Malick roteiriza e dirige a história do jovem Franz Jägerstätter (August Diehl), um fazendeiro austríaco convocado para lutar ao lado dos alemães durante a Segunda Guerra. Um homem igual a milhões de outros, mas que tem uma fortíssima crise de consciência no momento de jurar fidelidade ao exército de Hitler. E se recusa a fazê-lo. E da maneira mais plácida possível: simplesmente não fazendo. Sem nenhum tipo de manifestação externa, discurso político, explosão de sentimentos, nada… Franz simplesmente nada faz.
 
Talvez inspirado por esta absoluta sobriedade, Malick dedica grande parte das quase três horas do filme a retratar a paz que reina na vida civil do protagonista, nas belíssimas montanhas austríacas. São locações bucólicas de puro encantamento onde predomina o silêncio, o isolamento e a profunda relação de amores e carinhos que ele nutre pela esposa e pelas duas filhas.
E – detalhe histórico – quase tudo foi filmado na região e na própria casa do verdadeiro Franz Jägerstätter.
 
Assim, percebe-se como definitivamente, a guerra não cabe no mundo de Franz. Não poderia caber, por mais que sua esparsa comunidade rural o censure e o julgue por preferir não se engajar na tal luta patriótica em que alguns acreditam. Até o pároco local, que deveria pregar a paz.
A paz de Franz não é a dos livros, nem a dos manifestos, muito menos a da Igreja: é a paz real, interna, introjetada, indissolúvel de sua alma.
 
Certamente filmar a paz num filme de guerra é um grande desafio narrativo, principalmente nestes tempos de intensa ansiedade pelo frenético ritmo cinematográfico. Mas Malick não tem pressa em contar sua história, e lança mão escancaradamente de grandes angulares, steady-cams e amplíssimos movimentos pendulares para fazer com que sua plateia embarque, junto com Franz, neste possível sonho anti-bélico.
 
Não é fácil, mas é uma viagem sensorial que poucos proporiam.