“NO FUNDO DO POÇO”, QUANDO AS DORES SE ENCONTRAM.

Por Celso Sabadin.

Aos 19 anos, Henry (Alex Wolff) parou de estudar para se dedicar totalmente à mãe, doente. Ele mal sabe que bem em frente ao seu apartamento vive Ana (Imogen Poots), uma garota dependente química. Um espaço de poucos metros que ao mesmo tempo une e separa duas jovens dores solitárias.
O acaso, o inesperado, o destino, ou simplesmente a vida – seja lá o nome que for – coloca os protagonistas em rota de colisão. Que, neste caso, também pode ser uma rota de fuga de carências mútuas.

Sem julgamentos, “No Fundo do Poço” prescruta a colisão de dois universos opostos de duas pessoas geograficamente vizinhas: o do garoto ingênuo que busca uma escapatória para seu luto solitário, e o da menina que se joga na vida à procura de uma saída do labirinto interno em que se meteu. No fundo, duas carências que se apoiam e se completam.
Não por acaso, uma fotografia em tons escuros e esmaecidos – sem luzes nem brilhos – e um enquadramento claustrofóbico, na antiga janela 4 x 3, constroem estética e simbolicamente o visual cinematográfico do longa.

Tangencialmente, “No Fundo do Poço” também faz uma rápida mas importante denúncia contra o sistema tóxico que rege as relações entre médicos e indústria farmacêutica. “Quando eu precisava de um, você me deu 100 comprimidos. E agora que eu preciso de mais, você não me dá nenhum?!”, briga Ana com seu médico, pelo telefone. Há também uma sugestão da personagem sobre um esquema de corrupção que aconteceria na farmácia onde ela se tornou dependente.

Canadense, “No Fundo do Poço” é o segundo longa do roteirista e diretor Joey Klein, e estreou em 10 de junho na plataforma www.cinemavirtual.com.br

Eu não tinha percebido, mas a mãe do protagonista é interpretada por Neve Campbell, a estrela da franquia “Pânico”. Tá pensando que só a gente envelhece?