“NO SUBMUNDO DE MOSCOU”: ENTRETENIMENTO RUSSO.

Por Celso Sabadin.

Ainda que inspirado em histórias reais, “No Submundo de Moscou” é uma costura dramatúrgica de referências, algumas ficcionais, outras verdadeiras. O roteiro de Elena Podrez, Ekaterina Kochetkova e do próprio diretor, Karen Shakhnazarov (o nome Karen, em russo, é masculino), aborda dois protagonistas reais, em um lugar real, envolvidos em uma trama romantizada.

Explico: os personagens reais são o escritor e jornalista Vladimir Guilyarovsky e o diretor teatral Konstantin Stanislavsky. Em 1902, ambos se embrenham pelo sombrio e marginal bairro moscovita de Khitrovka, para uma pesquisa que Stanislavsy empreende, visando a montagem de seu próximo trabalho: a peça “Ralé”, de Maksim Gorky. O bairro de Khitrova também existiu, tendo recentemente passado por um processo de restauro e revitalização. Ele foi rebatizado como Maksim Gorky, em homenagem ao famoso dramaturgo e em referência à citada visita de Stanislavsky.

Já a trama de mistério e assassinatos que envolve os protagonistas é tirada do romance “O Signo dos Quatro”, escrito por Arthur Conan Doyle, o criador do famoso detetive Sherlock Holmes.

Ainda que intrigante, tal caldeirão cultural que estrutura o filme não conseguiu fazer de “No Submundo de Moscou” um longa minimamente atrativo. Mesmo com direção de arte e reconstituição de época extremamente elaboradas e caprichadas, e com boas interpretações, o longa se perde pelos caminhos de excessivas e inócuas verbalizações, e por um estilo de direção que privilegia as obviedades da linguagem televisiva em detrimento às sutilezas da estética cinematográfica.

Resta a curiosidade de ver chegar ao nosso circuito exibidor uma rara produção russa direcionada ao entretenimento.