“NO VERMELHO” E OS CRUZAMENTOS DA VIDA.

Por Celso Sabadin

Em tempos de profundas intolerância e ignorância, o título do filme já assusta:  vermelho, ultimamente, tem provocado reações agressivas por parte de uma certa camada da população. Minoritária, felizmente. Mas logo se percebe que, embora o documentário “No Vermelho” seja, sim, um ato político (toda obra artística é), seu viés não é partidário.

Produzido em Minas Gerais, o longa acompanha uma série de pessoas que, por diversos motivos, tiram o seu sustento nos cruzamentos de Belo Horizonte, tendo no farol vermelho (ou sinaleira, ou semáforo, dependendo de cada região do país) a sinalização da própria sobrevivência.

Há o tradicional vendedor de balas, a dupla de artistas cênicos, o músico  pra lá de independente que divulga seu CD, o lavador de para-brisas, um pouco de tudo. Em cada um, uma história, um pequeno universo. Do dependente de crack ao cadeirante, passando por quem prefere ganhar a vida nos cruzamentos para ver as pessoas sorrir. Os pontos em comum entre todos são o caos do trânsito, o sol e a chuva que vêm e vão inapelavelmente, a falta de teto, a ausência de patrão, a alternativa de vida.

O argumento, roteiro, a direção e a edição de “No Vermelho” são de Marcelo Reis, que já foi radialista, músico, jornalista e educador, e produz audiovisuais desde os seus 16 anos de idade. O filme estreou em Belo Horizonte nesta quinta, 24 de março, e deve chegar paulatinamente em outras capitais brasileiras. Com a persistência e a obstinação sem as quais o cinema independente brasileiro não sobrevive. Nem os vendedores de semáforos.