“NOITE MÁGICA” LAMENTA O CINEMA ITALIANO.

Por Celso Sabadin.
 
Copa do Mundo de Futebol de 1990. No mesmo momento em que a Itália é desclassificada pela Argentina, um carro se precipita pelas águas do rio Tibre, em Roma. Dentro dele, um famoso produtor de cinema (o veteraníssimo Giancarlo Giannini), morto. Três jovens e brilhantes roteiristas, que acabam de vencer um concurso de roteiros, são os principais suspeitos. A partir daí, “Noite Mágica” se desenvolve como um grande flash back, onde o descolado Luciano (estreia de Giovanni Toscano), o napolitano nerd Antonino (Mauro Lamantia) e a bela e problemática Eugenia (Irene Vetere) darão à polícia as suas versões do fato.
 
Ainda que “Noite Mágica” tenha como pano de fundo esta pegada policial, não é o tal “whodunit” (quem matou?) que importa no filme. Na verdade, o longa dirigido e corroteirizado por Paolo Virzi é um grande lamento sobre a gigantesca crise de criatividade do cinema italiano, que já dura décadas. A trama do suposto assassinato serve apenas como fio condutor e pretexto para inserir três jovens personagens – criativos, inteligentes e cheios de energia – no decadente mundo do cinema italiano contemporâneo, comandado por decrépitos “maestros” (como eles dizem) viciados em esquemas de favorecimentos, corrupções e sem mais nenhuma vontade de filmar a sério. “Antigamente fazíamos dramas, comédias, westerns… hoje só fazemos porcaria”, diz um dos maestros.
Enquanto desvenda passados e trajetórias dos protagonistas, “Noite Mágica” tece um grande jogo de referências cinematográficas italianas, a maioria delas só perceptível aos iniciados no tema, com direito até a uma brevíssima “participação” de Federico Fellini.
O tom geral do longa, ainda que tangencie a comédia, acaba sendo o de uma grande tristeza pela morte – pelo menos até o momento – de um cinema absolutamente genial que já foi considerado o melhor do mundo, em antigas épocas onde prevaleciam os grandes cineastas.