“NOITES DE ALFACE” E DE ILUSÕES.

Por Celso Sabadin.

Os nomes dos personagens principais de “Noites de Alface” são dois palíndromos: Ada (Marieta Severo) e Otto (Everaldo Pontes). Seria apenas uma brincadeira? Talvez não: dependendo do ponto de vista, o filme também pode ser decodificado de trás para frente, ou de frente para trás. Como um palíndromo.

Num primeiro momento, fica-se com a impressão que “Noites de Alface” será mais um (belo) filme sobre amor e companheirismo na terceira idade. Afinal, tudo começa numa (também bela) cena em que Ada, em primeiro plano, demonstra um forte cansaço enquanto o marido Otto, fora de quadro, surge por trás para lhe estender a mão. Depois, aos poucos, também no ritmo cadenciado de seus protagonistas, vamos conhecendo momentos da intimidade e do cotidiano do casal.

Contudo – e novamente aos poucos – o roteiro do diretor Zeca Ferreira (feito a partir do romance homônimo de Vanessa Bárbara), vai inserindo elementos de estranhamento que nos prendem à trama. Uma reunião para organizar a quermesse da igreja que dura poucos segundos, olhares cruzados e desconfiados, um desaparecimento, uma investigação.  Como em um sonho – ou em um pesadelo – tais elementos se entrecruzam de maneira misteriosa e fora da ordem cronológica. Seria realidade ou efeito de um relaxante chá de alface? E por que alguns personagens falam como se estivessem no alto de um palco de teatro? Difícil responder. Ou talvez impossível. Ou ainda… desnecessário decifrar.

Com belas locações na Ilha de Paquetá e a sempre ótima intepretação de Marieta Severo, “Noites de Alface” marca a estreia na direção cinematográfica de Zeca Ferreira, e estreia nesta quinta, 24 de junho.