“NOJOOM, 10 ANOS, DIVORCIADA”: IGNORÂNCIA RELIGIOSA TURISTICAMENTE EMOLDURADA.    

Por Celso Sabadin.

O tema é mais do que atual, a história é mais do que importante, mas o filme, como cinema, esbarra numa série de problemas que poderão afastar o cinéfilo. Produzido pelo Iêmen – o que por si só já é uma curiosidade interessante – “Nojoom, 10 Anos, Divorciada”, mostra uma história real já resumida em seu próprio título. Nojoon é uma menina das montanhas do Iêmen cujo pai a obriga a se casar. No caso, o “casamento” é nada mais que uma venda, pois o pai da garota, precisando de dinheiro, vê na entrega da filha apenas uma oportunidade para pagar suas contas. A vida da menina se transforma num inferno, a ponto dela procurar ajuda diretamente no tribunal de sua cidade, em busca do divórcio.

O filme expõe o abismo cultural entre as milenares crenças religiosas do Iêmen e uma sociedade contemporânea supostamente desenvolvida. Ao mesmo tempo em que a autoridade local busca fazer algum tipo de justiça baseada no bom senso, e admite, para o nosso espanto, não haver nenhuma lei no país impedindo o casamento de menores, o pai e o marido da garota, mergulhados na mais profunda ignorância religiosa, não conseguem sequer perceber os motivos do desespero de Nojoon. Enquanto isso, o público fica sabendo que o caso retratado no longa está longe de ser exceção, e que contabilizam-se aos milhares as  meninas que – por hemorragia ou complicações advindas de gravidez precoce – chegam à morte ou à invalidez.

Social, humana e até antropologicamente, “Nojoon” reveste-se assim de uma inegável importância. Cinematograficamente, porém, trata-se de uma sucessão de lugares-comuns de forte influência telenovelesca, com imagens que buscam – incoerentemente com o próprio tema do filme – vender uma imagem turisticamente atrativa do país produtor. Pode funcionar didaticamente, mas aborrece como linguagem audiovisual.