NOS EUA, IRMÃOS PANG DECEPCIONAM COM “OS MENSAGEIROS”

Como dona do dinheiro, há décadas a indústria hollywoodiana tem por hábito e política buscar nos mercados internacionais os melhores talentos disponíveis no momento. Já nos anos 40, críticos mais ferinos diziam que “os melhores cineastas americanos são europeus”, casos dos ingleses Alfred Hitchcock e Charles Chaplin, do austríaco Fritz Lang, do italiano Frank Capra e de tantos outros. Traçando um paralelo, é o mesmo que acontece no futebol atual, no qual os times europeus, montados no capital, importam os melhores jogadores e técnicos da América do Sul e África, por exemplo. Nada mais natural. Cinema e futebol podem ser considerados arte, mas também são business, campo no qual quem pode mais chora menos.
Como parte desta busca incessante pelo que existe de melhor no mercado internacional, Hollywood importa o talento de Danny e Oxide Pang. Nascidos em Hong Kong, estes gêmeos idênticos já estavam chamando a atenção do público e da crítica desde o final dos anos 90, escrevendo e dirigindo perturbadores filmes de terror e suspense, ganhando destaque em festivais de cinema asiáticos e europeus. The Eye – A Herança e Assassino em Silêncio são dois exemplos que podem ser vistos no Brasil.
Porém, o projeto escolhido pelos produtores (entre eles o badalado Sam Raimi, diretor dos – até agora – três Homem-Aranha) para esta primeira incursão dos Pang no mercado norte-americano não foi dos mais felizes. Tudo nasceu de um argumento desenvolvido por Todd Farmer, que só havia escrito a história de Jason X, o que não é exatamente uma boa credencial. Para piorar a situação, o roteiro foi entregue a Mark Wheaton, sem nenhuma experiência no cinema. O resultado é Os Mensageiros, um terror fraco e previsível, bem aquém do talento dos irmãos importados.
A história fala de uma família problemática que pretende fugir dos problemas do passado trocando a cidade grande por uma bela – e assustadora – fazenda abandonada, perdida no interiorzão dos EUA. A idéia é das mais bucólicas: plantar girassóis. Mas logo esta família percebe que, na realidade, está caindo no velho conto da casa mal-assombrada. E o público também percebe que está vendo mais um filme igual a tantos outros, com todos os desgastados clichês do gênero.
Os Mensageiros não apresenta, nem de longe, o silêncio sutil e o clima aterrorizante que os irmãos Pang se especializaram em criar em seus trabalhos anteriores. Pelo contrário: como ocorre cansativamente em quase todas as produções norte-americanas, aqui os sustos (ou suas tentativas) são ditados pelos exageros da mixagem de som, que atira sobre os ouvidos da platéia aqueles golpes baixos e desleais típicos dos filmes de suspense de pouca qualidade, que não conseguem assustar pela força das imagens. O roteiro, dos mais banais, também não ajuda.
Ficam então as perguntas: por que os irmãos Pang, de prestígio no mercado asiático, se submeteram a dirigir um roteiro tão fraco, vindo de profissionais tão inexperientes? Somente pelos dólares? Por outro lado, por que os produtores norte-americanos se dispuseram a importar talentos tão criativos para dirigir uma história tão descartável? A verdade é que, salvo honrosas exceções que confirmam a regra, o filme americano cada vez mais se isola num emaranhado de regras de marketing ditadas pelas limitações de um mercado financeiro, que tem muito mais medo de errar que vontade de acertar. E bons diretores, vindos de todas as partes do mundo, tendem a se perder e a arriscar suas próprias carreiras, vítimas destas armadilhas.
A outra má notícia é que o próximo filme dos Pang – Bagkok Dangerous – também é uma produção norte-americana e está prometida para 2008, com Nicolas Cage no papel principal. É por estas e por outras que Pedro Almodóvar continua recusando terminantemente todos os convites que tem recebido para atuar neste devorador de talentos que é o mercado dos filmetes comerciais dos Estados Unidos.