“NOSSA VIDA NÃO CABE NUM OPALA” É FORTE E PERTURBADOR.

“Nossa Vida Não Cabe num Opala” já chega às telas marcado por polêmicas. A primeira diz respeito ao seu próprio título, já que ele deveria ser homônimo da peça de teatro que o inspirou, “Nossa Vida Não Vale um Chevrolet”, de Mário Bortoloto. A General Motors não permitiu o uso do nome Chevrolet, mas tolerou que a produção utilizasse “Opala” que, afinal, é um carro fora de linha.

A segunda polêmica, mais contundente, envolve Mário Bortolotto, autor do texto original da peça, e Di Moretti, roteirista que o adaptou para as telas. Bortolotto detestou a adaptação e fez questão de deixar isso bem claro em blogs, artigos e listas de internet que circulam pelo meio cinematográfico. Di Moretti se defende argumentado que fez o trabalho para o diretor do filme, Reinaldo Pinheiro, que o aprovou com louvor, e não para agradar o sempre irriquieto Bortolotto.

Para o público, na verdade, nada disso importa. Interessa, sim, acompanhar um trabalho dos mais fortes e viscerais da atual safra do cinema brasileiro, um filme denso e perturbador sobre conflitos familiares e cruéis relações de poder.
A trama fala de quatro irmãos que entram em conflito após a morte do pai (Paulo César Pereio), um ladrão de carros que deixa para os filhos o que Reinaldo Pinheiro classifica de “uma herança maldita”. A herança do desentendimento, da desagregação familiar, da marginalidade. Denso, “Nossa Vida Não Cabe num Opala” apresenta uma bela fotografia escura e depressiva assinada por Jacob Solitrenick (o mesmo de “Falsa Loura” e “As Vidas de Maria”), perfeitamente sintonizada com a temática do roteiro.

Como convém a um trabalho adaptado do teatro, o filme brinda o público com
marcantes interpretações de praticamente todo o elenco, com destaque para Leonardo Medeiros e Maria Manoella. A única nota dissonante seria a interpretação de Milhem Cortaz (“Tropa de Elite”) que ao optar por um registro de exacerbação cômica, acaba conferindo ao filme um tom de blague nem sempre coerente com sua temática.

E por falarem blague, “Nossa Vida Não Cabe num Opala” marca o último trabalho no cinema da atriz Dercy Gonçalves. O filme ganhou um prêmio no Cine Ceará (onde foi prejudicado pela má qualidade da projeção, e cinco troféus no Festival de Pernambuco.