NOSTALGIA COUNTRY MARCA O BELO “ENCONTROS AO ACASO”

Como atriz, Joey Lauren Adams nunca foi um grande sucesso. Seu trabalho de maior destaque foi “Procura-se Amy”, de 1997, pelo qual ela recebeu algumas indicações e prêmios de coadjuvante. Agora, porém, como roteirista e diretora, Joey demonstra uma grande dose de talento e sensibilidade. Seu filme de estréia nestas funções, “Encontros ao Acaso” foi indicado ao Prêmio Especial de Júri no badalado Sundance Festival, e levou troféus em dois eventos de menor porte.
E o filme realmente surpreende. Não exatamente pelo que acontece nele, mas pelo que “não acontece”. “Encontros ao Acaso” tem a ousadia de propor uma narrativa lenta e introspectiva, totalmente na contra-mão dos sucessos recentes americanos, e muito mais sintonizada com um estilo country/reflexivo que aprendemos a amar nos anos 70. Algo como um “Alice Não Mora Mais Aqui” ou “O Espantalho” fora de época. E muito bem-vindo.
Tudo acontece (ou “não acontece”) numa pequena cidade do interior dos EUA. Há uma placa de automóvel, vista de relance, que entrega que o cenário dos fatos é o estado de Arkansas, o mesmo onde nasceu a roteirista e diretora do filme. Assim, como em muitos cantos do interior do Brasil, por ali também a cerveja parece ser a única diversão possível na cidade. É grande o tédio das noites quentes. É neste marasmo que Lucy (Ashley Judd, excelente) tenta ocupar seu tempo e superar antigos problemas se embebedando para ir para a cama com qualquer pessoa. Na manhã seguinte, a dupla ressaca – do álcool e do sexo – faz da garota uma pessoa cada vez mais amarga. Ao conhecer Cal (Jeffrey Donovan), ela percebe na própria pele o fundo de poço ao qual chegou: Lucy simplesmente está anestesiada contra a possibilidade do amor verdadeiro. Tudo num tom melancólico sublinhado pela montagem desacelerada e pelas tristes canções country entoadas por vozes chorosas.
”Encontros ao Acaso” narra a saga de uma mulher em busca de si mesma. Uma aventura que se dá nos campos de batalha da alma, interna e dolorosamente. Sem tiroteios, nem perseguições de automóveis e – absoluta raridade num filme americano: sem a presença de nenhum elemento policial. Talvez por isso mesmo o filme tenha sido um estrondoso fracasso na terra do país mais bélico do mundo: ele custou em torno de US$ 6 milhões e não rendeu sequer US$ 200 mil nas bilheterias. Azar de quem não viu: com interpretações magníficas de um elenco que reúne talentos jovens e veteranos, o filme é belíssimo