NOVO FILME DE MEIRELLES, “360”, TRATA COM HABILIDADE DO COMPLEXO TEMA DOS RELACIONAMENTOS HUMANOS.

“360” passeia com talento e sensibilidade por pequenos e pungentes dramas do cotidiano que permeiam as vidas de pessoas tangenciadas pelas astutas armadilhas do acaso. Se é que o acaso existe. Há um executivo chantageado por ter marcado um encontro com uma prostituta; uma brasileira traída pelo namorado em Londres; um dentista muçulmano que se apaixona por sua assistente russa; um estressado motorista particular que não suporta mais ser mal tratado pelo seu patrão mafioso; um pai à procura da filha desaparecida… e muito mais. E, não, o filme nada tem a ver com o estilo de “histórias paralelas” popularizado por Robert Altman. É outra pegada.

Ainda que desenvolvidas em vários cantos do mundo (Viena, Paris, Londres, Bratislava, Denver e Phoenix), as tramas de “360” são universalmente locais. Falam de culpa, de sexo, de traições, paixões, arrependimentos e buscas. Fala de pequenos detalhes que mudam, em segundos, as opções de uma vida. Um bilhete escrito na hora certa ou um telefonema atendido na hora errada podem alterar a trajetória do mundo. Pelo menos do mundo particular de cada um.

“360” une, no mínimo, três grandes talentos cinematográficos: primeiro, o brilhante roteiro de Peter Morgan, o mesmo de “Além da Vida”, levemente inspirado na peça “La Ronde”, de . Arthur Schnitlzer, não creditado. A ideia é conferir a informação com Meirelles, na entrevista coletiva de logo mais à tarde. Segundo, a vibrante e sempre criativa montagem de Daniel Rezende, que transforma os cortes em algo sempre maior que uma simples transição de cena. E, terceiro, claro, a habilidade de Meirelles em juntar tudo isso a contar, com extremas eficiência e emoção, todas estas histórias e sub-histórias, dando a cada personagem o peso correto, a cada sub-trama o tão necessário equilíbrio dramatúrgico.

Em “360”, Meirelles se mostra um cineasta ainda mais maduro do que foi em “Ensaio Sobre a Cegueira”, e comprova o que nem mais precisava ser comprovado: que também é um grande diretor de atores.
Na apresentação do filme no palco de Gramado, ele disse se tratar de um filme “pequeno e intimista”. Concordo com o intimista, mas discordo do pequeno: “360” é um grande filme sobre a complexidade dos grandes relacionamentos humanos.