NOVO FILME DE OLIVER STONE PINTA BUSH COMO VÍTIMA.

Lembra do combativo e polêmico cineasta Oliver Stone? Aquele que denunciou as mazelas do governo norte-americano em “Platoon”, “Nascido em 4 de Julho” e “JFK”? Pois é. Ele morreu. Não o homem Oliver Stone, mas a sua inquietação política. E talvez até o seu talento cinematográfico. Depois do fraco “As Torres Gêmeas”, de 2006, Stone retorna às telas ainda mais irreconhecível no morno “W.”, cinebiografia do ex-presidente George W. Bush.

A trajetória do biografado, por si só, já seria sinônimo de polêmica, denúncias, inquietação. Mas não neste filme. Em parceria com o roteirista Stanley Wiser (o mesmo de “Wall Street”, também dirigido por Stone), o cineasta apresenta uma narrativa sonolenta, verborrágica, pouco ou quase nada cinematográfica. E pior: o filme pinta Bush como uma vítima das circunstâncias. Pelo roteiro, George W. Bush (Josh Brolin, de “Milk”, numa boa incorporação de personagem) foi um garoto mimado, de família rica, que sofria muito pelo fato de seu pai – o também presidente Bush – dar mais atenção ao irmão Jeb, que mais tarde se tornaria governador da Flórida.
Para exorcizar todo este complexo de rejeição, George filho recorria ao álcool e às noitadas. Ô dó! Mais tarde, para provar ao pai que ele poderia ser um grande governante, invadiu o Iraque. Tal invasão – ainda de acordo com o filme – também teria sido apenas o ato de um presidente “vitimado” por maus assessores. A única “culpa” que o roteiro atribui a Bush é a ignorância. Se ele era arruaceiro e alcoólatra, o culpado foi seu pai injusto. Se ele lançou os EUA numa guerra insana, os culpados foram aqueles que o aconselharam a isso, principalmente o vice, Dick Cheney (Richard Dreyfuss).

Difícil engolir premissas tão simplistas. Difícil se envolver por um filme de narrativa tão burocrática, com jeitão de minissérie de TV. Impossível aceitar a tese de “ingenuidade” de Bush que “W.” propõe. Que o talento de Oliver Stone ressuscite em seu próximo filme, um documentário sobre Hugo Chávez, atualmente em produção.