NOVO “HAIRSPRAY”, NOS TEMPOS DO LAQUÊ

Está longe de ser um “Nos Tempos da Brilhantina”, mas bem que “Hairspray – Em Busca da Fama” pode ser considerado uma espécie de “Nos Tempos do Laquê”. O filme se passa nos anos 60, época em que os EUA festejavam a ostentação e a riqueza através de carros rabo-de-peixe e penteados bolo-de-noiva. Porém, manchando a utopia dourada do novo sonho americano pairava a vergonha da discriminação racial.
Em ritmo de comédia musical, “Hairspray – Em Busca da Fama” aborda tangencialmente todos estes assuntos através da personagem Tracy (a ótima estreante Nikki Blonsky), que sonha alcançar a fama participando de um concurso de danças num programa de TV. Porém, a garota – simpática, mas gorducha – fere os padrões de beleza impostos pela diretora do show, Velma (Michelle Pfeiffer), que prefere proteger a loira insossa Amber (Brittany Snow), que por sinal também é sua filha. No mundo de Velma (assim como nos EUA), o “feio” é descartado, assim como os dançarinos negros são colocados a parte, numa espécie de gueto que lhes reserva apenas um eventual programa “especial” onde eles possam dançar. De forma irônica, é justamente com os colegas negros que Tracy aprenderá seus melhores passos de dança, que poderão lhe levar à tão sonhada fama.
“Hairspray – Em Busca da Fama” é a refilmagem de “Hairspray – Éramos Todos Jovens”, que o sempre polêmico John Walters filmou em 1988. O filme anterior era mais transgressor, mas este remake também é bem-vindo. Principalmente pelo carisma de seus personagens, pela alegria, e pelo estilo descompromissado adotado pelo novo diretor Adam Shankman, o mesmo de “O Casamento dos Meus Sonhos”.
Porém, não se percebem, na tela, os US$ 75 milhões que, estima-se, tenham sido investidos no filme. Pelo contrário, tem-se durante todo o tempo a impressão de um filme de orçamento bem menor, com coreografias pouco elaboradas e uma produção até certo ponto acanhada. O que não tira os méritos, muito menos o bom humor de “Hairspray – Em Busca da Fama”. Um filme que merece ser conferido, nem que seja pela divertida participação de John Travolta, escondido debaixo de uma pesadíssima maquiagem de mulher gorda.