NOVO MISSÃO IMPOSSÍVEL NÃO É TÃO NOVO, MAS DIVERTE.
Por Celso Sabadin.
Ponto positivo para o novo Missão Impossível, em comparação ao novo Velozes e Furiosos! Assim como o filme de Vin Diesel, o de Tom Cruise também termina no meio da ação, deixando o espectador em suspenso sobre o final da aventura. Mas o Missão Impossível, pelo menos, já deixa isso claro no próprio título: “Missão: Impossível – Acerto de Contas PARTE 1”. Da mesma forma que o Velozes 10, este Missão, digamos, 7, também não vai finalizar o que começa. Mas pelo menos tá avisado.
Neste episódio, o roteiro de Erik Jendresen e Christopher McQuarrie atualiza a boa e velha fórmula do vilão megapoderoso que quer dominar o mundo. Em tempos virtuais, tal domínio não é mais atômico, como antigamente, mas digital. Alguém ou alguéns que ainda não sabemos quem é conseguiu criar uma ferramenta de inteligência artificial capaz de controlar todo e qualquer sistema informatizado do planeta. Mais até que controlar, o sistema cria e engana, ou seja, não será mais possível acreditar em absolutamente nada que venha através do mundo digital.
Neste contexto, a turma do IMF – Impossible Mission Force – vai sair correndo pelo mundo – e põe correndo nisso – atrás de duas chaves que – juntas, e somente juntas – poderão solucionar a encrenca toda.
Como se percebe, um mecanismo de dominação global, somado a um dispositivo dividido em duas metades que precisa ser acionado em conjunto para salvar o mundo, está longe, muito longe de ser uma ideia nova. Por mais que tudo seja reciclado para a esfera da inteligência artificial – o novo brinquedinho digital da hora – temos aqui novamente o que Alfred Hitchcock chamava de “Mc Guffin”. Ou seja, algum ponto de partida que não interessa muito, do qual a gente até acaba se esquecendo no decorrer da trama, mas poderoso o suficiente para deflagrar o que realmente importa, neste tipo de produção: a construção fílmica da ação.
E, no quesito ação (provavelmente o único que realmente importa para o consumidor da franquia), o longa não decepciona. Há pelo menos duas sequências que já podem ser colocadas no panteão dos grandes momentos dos filmes de correria: a da perseguição em Roma e a do trem.
Quem ainda não viu o filme pode (e talvez até deva) estar pensando: Brincadeira! Perseguição em Roma e cena do trem? Outra vez? Sim, outra vez. A repetição de ideias e conceitos, reciclados com cada vez mais espetacularizações e pitadas de humor – fazem a fórmula de sucesso deste tipo de franquia. Aliás, por isso mesmo se chama “franquia”. A ideia é não tirar o público da sua zona de conforto, dando a ele – basicamente – o que ele já espera, mas sempre tentando acrescentar uma pitadinha a mais de alguma coisa que ele já tem. Uma ou duas derrapadas a mais, duas ou três explosões a mais, e assim por diante. Mas sem exagerar muito, caso contrário faltarão ideias para o episódio de número 8.
A autorreferência em looping é a receita infalível do pós-pós-moderno, que pede muitas novidades, mas nada de novo.
Desta forma, este sétimo Missão Impossível é leal às suas plateias, na medida em que – além de já avisar que o filme para no meio, como já dissemos – ele é bastante satisfatório no que se propõe, criando e realizando seus momentos-chave com muita competência e altíssimo grau de produção.
Na perseguição pelas ruas de Roma, por exemplo, a gente até acaba relevando que tudo começa ao lado do Coliseu, bandidos e mocinhos correm desesperada e velozmente durante um baita tempo… e o plano final da sequência revela que todos estamos novamente ao lado do Coliseu. E não reclame! Você foi ver Missão Impossível, não foi?
O longa também traz ainda um humor bem dosado que faz sorrir sem esculhambar, permitindo até uma brincadeirinha entre a confusão de siglas que envolvem o IMF e o FMI – Fundo Monetário Internacional, além de se auto-satirizar na velha questão das máscaras removíveis que fazem qualquer um ser a cara de qualquer um.
Hayley Atwell (a Peggy Carter de outra franquia: Os Vingadores) é o grande destaque do elenco, capitaneando com muito carisma o papel feminino principal de uma linha de filmes historicamente machista.
E o diretor Christopher McQuarrie, já bem adaptado à série (é dele também a direção dos episódios Nação Secreta e O Efeito Fallout) acaba se saindo bem na difícil tarefa de equilibrar as grandes cenas de ação aos diálogos quilométricos que se estabelecem de tempos em tempos para que os personagens posam verbalmente explicar ao púbico o que está acontecendo entre uma correria e outra.
Bem divertido.