“NOVO MUNDO” VAI DIRETO PARA A LISTA DOS MELHORES DO ANO

Como diziam os antigos locutores esportivos, quase ao “apagar das luzes” de 2007 surge nas telas um filme imperdível, destes que seguramente estará na lista dos melhores do ano. Trata-se de “Novo Mundo”, exibido com sucesso na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2006, e ganhador de sete prêmios no Festival de Veneza.
Dirigido por Emanuele Crialese, o filme narra a saga de uma certa família Mancuso, camponeses isolados da civilização, no paupérrimo interior da Sicília, durante a virada do século 19. Com o sonho de fugir da pobreza, os Mancuso são seduzidos por toscas montagens fotográficas que prometem colheitas gigantescas e árvores que dão dinheiro para todos aqueles que se dispuserem a cruzar o Atlântico e desfrutar das maravilhas da América. Assim, esperançosos, iludidos e ignorantes, pai, dois filhos e avó deixam o campo e se aventuram num navio superlotado de imigrantes rumo ao sonho americano.
“Novo Mundo” pode ser dividido em três atos: a vida isolada no campo, a viagem de navio, e a seleção de imigrantes feita na ilha Ellis, em Nova York, aquela da famosa Estátua da Liberdade. Logo nas primeiras cenas já é possível perceber a intenção do diretor de criar um intenso clima visual e de envolvimento sonoro através dos longos momentos de silêncio reflexivo que o filme propõe. A sobrevivência campestre é extremamente árida, quase muda, sofrida, emoldurada por pedras e por uma terra onde nada parece florescer. Lembra o estilo de “A Árvore dos Tamancos”, dos irmãos Taviani.
Mais tarde, a chegada ao porto lotado de imigrantes desesperados por uma vida melhor cria imediatamente um contraponto ruidoso e esquizofrênico ao que se viu no primeiro ato. A cena da partida do navio – dividindo radicalmente os que vão e os que ficam – já é antológica. Segue-se depois a viagem propriamente dita, com a inclusão de um elemento romântico/erótico personalizado na personagem Lucy (Charlotte Gainsbourg), uma inglesa misteriosa que destoa de tudo e de todos e se transforma nos centro das atenções. Não por acaso, os italianos chamam Lucy de “Luce” (luz). Espaço para outra cena antológica: a do “balé da sedução” no convés do navio. Inesquecível.
Após a chegada na central de triagem em Nova York, “Novo Mundo” assume contornos um pouco mais políticos e ainda mais humanistas (fortes tradições do cinema italiano) ao discutir as diferenças sócio-culturais de um povo que “foge” contra o povo que finge “abrigar”, mas que na verdade oprime. Sim, é ainda dá tempo para mais uma cena antológica: a “bronca” que a personagem da avó impõe contra o burocrata guarda da imigração.
“Novo Mundo” é um daqueles raros filmes em que se tem vontade de aplaudir várias vezes durante a projeção, em cena aberta. Um trabalho que denota fortíssimas maturidade narrativa e criatividade cinematográfica de um diretor e roteirista que tem apenas mais dois longas em sua bagagem: “Once We Were Strangers” e “Respiro”
Não deixe de ver.