“NOVO SÉCULO AMERICANO” TRAZ IMAGENS (E VERDADES?) CHOCANTES.

Alguém ainda acredita em Papai Noel? Coelhinho da Páscoa? E que Bin Laden foi realmente o responsável pelos ataques de 11 de Setembro? Para quem ainda crê que os EUA foram covardemente atacados naquele fatídico dia, uma boa idéia é conferir o documentário italiano “Novo Século Americano”, filme que traz uma consistente e detalhada análise não apenas daquela tragédia, como também de várias outras que permeiam a cultura bélica propagada e promovida pelo país de Tio Sam.

A premissa é bem conhecida, mas aqui relatada de forma brutal: os EUA sempre precisaram criar no imaginário de sua população a idéia do medo constante, do inimigo eterno que estaria diuturnamente à espreita da hora exata para detonar os ideais de liberdade e democracia tão valentemente defendidos pelos irmãos do norte. Como inimigos poderosos requerem defesas poderosas, quanto mais a população sentir este pânico, mais a opinião pública reagirá favoravelmente à liberação de verbas para armamentos. Com efeitos colaterais cruéis e aterrorizantes.

Através de entrevistas, depoimentos, acesso a documentos tidos como secretos, análises e interpretações, o documentário mostra que esta postura norte-americana é das mais antigas. Exemplifica o caso da Guerra Hispano-Americana, do final do século 19, onde os ianques teriam explodido um navio deles mesmos apenas para culpar a Espanha e iniciar a Guerra. A verdade só vira à tona cem anos depois. Falcatruas muito parecidas seriam repetidas como estopim da entrada dos EUA na 2a. Guerra Mundial (Pearl Harbor), na Guerra do Vietnã, e em conflitos mais recentes como as Guerras do Golfo e a invasão ao Iraque.

Claro, da mesma maneira que imagens e informações são altamente manipuladas pelo governo norte-americano para justificar todas estas guerras, ninguém deve ser ingênuo o suficiente para acreditar cegamente em todas as imagens e informações veiculadas também por este documentário. É preciso ser coerente. Porém, quando se ouve diretamente das bocas dos próprios participantes de antigos governos americanos que qualquer mentira era válida para que a indústria bélica continuasse a operar a pleno vapor, é impossível ficar impassível.

O ex-presidente Bill Clinton chega a afirmar que nem FBI e nem CIA jamais conseguiram provar que Bin Laden era o verdadeiro responsável por vários ataques terroristas atribuídos a ele. O ex-Secretário de Estado Robert McNamara também afirma que muitas notícias que o seu governo divulgava eram puras mentiras.
Chama a atenção também o inspirado momento em que o filme contrapõe dois discursos de Donald Rumsfeld, um dos homens fortes de Bush, recitando praticamente a mesma ladainha paranóica em dois momentos históricos totalmente diferentes: um contra a antiga União Soviética, outro contra o Iraque.

Cinematograficamente falando, “Novo Século Americano” é um documentário, digamos, ”à moda antiga”. Nenhuma sombra do estilo espetaculoso de Michael Moore. Ele é didático, com linguagem televisiva, e narração. Narração, diga-se, dublada em português (por Paulo Betti), o que se constituiu numa feliz opção da distribuidora brasileira, já que o filme apresenta uma grande quantidade de texto que se perderia nas limitações das legendas. Há um farto material de arquivo e vários depoimentos emocionantes.
O fato do filme ser esteticamente fraco não chega a incomodar, já que o seu grande impacto está centralizado em seu conteúdo, e não na forma. Há cenas chocantes de mercenários e soldados americanos fazendo das ruas de Bagdá um verdadeiro videogame particular (e mortal).

A cena final, onde um soldado acena sadicamente com uma garrafa de água para um grupo de garotos sedentos, é um dos momentos mais cruéis já mostrados pelo cinema.