NOVO “SETE HOMENS E UM DESTINO” REPAGINA SEUS ANTECESSORES COM TALENTO.  

Por Celso Sabadin.

É normal que refilmagens de grandes sucessos causem estranheza e alguns narizes torcidos. Caso, por exemplo, deste novo “Sete Homens e um Destino”, remake do homônimo de John Sturges, de 1960, que por sua vez é uma adaptação do magistral “Os Sete Samurais”, que Akira Kurosawa dirigiu em 1954.

É compreensível. Neste nosso tempo de intermináveis reciclagens, a refilmagem pode parecer apenas um caça-níqueis dentro de um mercado carente de novas ideias. Felizmente isso não aconteceu com esta nova versão, agora dirigida por Anthony Fuqua (o mesmo de “Dia de Treinamento”), que traz um punhado de bons acertos. O primeiro deles – e o mais visível – é trazer o grande vilão para os nossos tempos. Se nos filmes anteriores a ameaça vinha de um bando de criminosos, nesta refilmagem o mau agora é encarnado por um mega empresário. Nada mais coerente. Um empresário que, por sinal, invade uma igreja armado até os dentes, e prega à população local que ele, enquanto grande capitalista, representa Deus. E quem está contra ele está contra Deus. Raciocínio perfeito para estes tempos neoliberais. Para um bandido, é claro.

Outra acertada opção de Fuqua foi pela estética e pela narrativa clássicas, que acabam assim prestando uma homenagem não só ao filme anterior, como também a toda a linhagem de westerns clássicos. Tudo está lá: os grandes planos abertos do deserto, cavalgada ao por do sol, duelo, dublês despencando espetacularmente do alto de suas posições de tiro. Um verdadeiro deleite para os fãs do gênero. A magnífica fotografia do italiano Mauro Fiore (o mesmo de “Avatar”) e a ótima trilha sonora assinada a quatro mãos por Simon Franglen e James Horner (em seu último trabalho) garantem o espetáculo audiovisual.

Há também espaço para breves mas interessantes leituras sobre a formação da sociedade norte-americana, toda ela baseada na força bruta, na violência e numa aparentemente infinita intolerância entre os lados que se defrontaram numa Guerra Civil que parece jamais ter terminado. Um povo bélico em suas mais profundas estruturas. Talvez não por acaso, os sobreviventes do sangrento conflito do filme tenham sido – e, atenção, lá vem spoiler – justamente os excluídos, representados pelo índio, pelo latino e pelo negro.

Duas significativas variações em relação aos filmes anteriores mostram como este novo “Sete Homens e Um Destino” se apresenta mais sintonizado com os novos tempos. A primeira é a presença de um papel feminino forte (Emma, vivida por Haley Bennett), elemento crucial nos modernos planos de marketing que já pesquisaram a importância da mulher na decisão de compra de um ingresso de cinema. E a segunda – atenção para novo spoiler – vem da motivação dos personagens. Se nos longas anteriores havia ainda um certo senso humanitário de justiça, através do qual os pistoleiros (ou samurais) compram a briga por se solidarizarem e simpatizarem com os camponeses oprimidos, aqui o gatilho (sem trocadilhos) da ação é a pura e simples vingança. Sim, são novos tempos. Não necessariamente melhores, mas novos.

Tudo isso e mais um elenco afiadíssimo encabeçado por Denzel Washington e com um quase irreconhecível Vincent D´Onofrio cada vez mais parecido com Orson Welles. Enfim, um programão. Estreia quinta, 22/09.