NOVO “SHERLOCK HOLMES” NÃO SUBESTIMA O ESPECTADOR.
Quem viu o primeiro “Sherlock Holmes” desta nova safra vivida por Robert Downey Jr. já sabe bem que muito pouco – quase nada – restou da obra original de Sir Arthur Conan Doyle. Não é exatamente uma “adaptação cinematográfica”, mas sim, digamos, uma ”apropriação indébita” de um personagem da literatura para ser transformado em filme de sucesso. Se isso não te incomoda (é o meu caso), procure um cinema de boa qualidade de som e imagem, espalhe-se na poltrona, e divirta-se com este novo “Sherlock Homes: o Jogo de Sombras”.
O filme cumpre o que seu título promete: um jogo de sombras, cheio de reviravoltas, onde nada é o que parece ser. Totalmente compatível com a obra de seu diretor, Guy Ritchie, o mesmo de “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”, entre outras estrepolias policiais. Agora, o roteiro situa a ação em 1891, momento em que o psicótico e genial Sherlock Holmes (Robert Downey Jr., carismático e divertido como sempre) traça paralelos e tece conjecturas para tentar descobrir as causas dos atentados a bombas que estão abalando as relações diplomáticas entre França e Alemanha. Ele tem uma teoria, é claro, mas para prová-la ele necessitará da parceria de seu sempre fiel escudeiro Watson (Jude Law), que no momento está muito mais preocupado com seu casamento. Demora um pouco pra pegar, mas depois flui muito bem.
Está armada a trama, convencional e esquemática, de um filme que poderia ser uma franquia de “Identidade Bourne”, “Missão Impossível”, “007” ou qualquer outro do gênero. Mas que pelo fato de ser “Sherlock Holmes” carrega consigo a bem-vinda possibilidade de ambientar toda a ação no século 19. O que proporciona o desenvolvimento de uma direção de arte nunca menos que magnífica, de engenhocas, vestuário e cenografia de primeiríssima linha, tudo iluminado pela direção de fotografia do genial francês Philippe Rousselot, o mesmo de “Peixe Grande”, “A Fantástica Fábrica de Chocolate” e outros 62 títulos.
Precisa mais? Não precisa, mas tem: a criativa trilha de Hans Zimmer, a participação no elenco do ótimo Stephen Fry (de “Wilde”), e a produção sempre megalômana de Joel Silver, da série “Duro de Matar”. Trata-se, sem dúvida, de um blockbuster, com todas as formulações de sucesso que o gênero exige, necessárias a uma boa bilheteria e uma boa diversão. Mas uma diversão que não subestima o espectador e que, ainda de quebra, faz uma crítica à eterna tendência do ser humano para as guerras e conflitos, o que acaba provocando a ganância dos poderosos que aprenderam a tirar o máximo lucro da violência.
Pra começar o ano tá bom, não tá?

