Novo

A comparação é inevitável: a produção franco-hispano-suíça Novo parece uma mistura de Amnésia com O Homem que Copiava. O filme começa mostrando Graham (Eduardo Noriega, de Plata Quemada) brigando contra uma máquina de refrigerante. Após alguns socos ele consegue sua tão desejada garrafa de água, que é logo abandonada pela metade, para que o rapaz possa imediatamente voltar a espancar a máquina. Vândalo? Aos poucos o público percebe que não: Graham simplesmente tem um sério problema com sua memória recente, praticamente idêntico ao personagem Leonard Shelby, de Amnésia. Porém, enquanto o filme de Christopher Nolan utiliza esta deficiência para montar uma intrigante historinha policial, Novo propõe uma nova leitura para o tema, uma libertação através do esquecimento, um renovar constante de emoções diárias, um perdão completo de todas as culpas, a cada novo amanhecer. Sem cair no romantismo comercial de Como se Fosse a Primeira Vez.
Ao se esquecer de tudo, Graham se torna um novo homem a cada dia, a cada hora. Ama a mesma mulher como se fosse a primeira vez (sem trocadilho com o nome do outro filme), é sujeito e objeto de diversas conquistas sexuais, e só consegue manter um tênue padrão de coerência em sua vida graças a um caderninho onde anota tudo, e que mantém atado ao seu corpo como um cordão umbilical. Mas se por um lado a enfermidade de Graham é libertária, por outro ele receberá a cobrança de suas próprias raízes, dos laços afetivos que amarrou com o seu passado.
Com direção de Jean Pierre Limosin (de Os Olhares de Tóquio), Novo é um filme intrigante e divertido na medida certa. Merece ser conferido.