“O ABRAÇO CORPORATIVO” EXPÕE A FRAGILIDADE DA IMPRENSA.

Qualquer pessoa que tenha um mínimo de contato com a atividade jornalística – seja dentro das redações, seja somente como consumidor de notícias – percebe claramente a incrível quantidade de informações erradas, mentiras e distorções publicadas diariamente pela nossa imprensa, seja escrita, eletrônica ou virtual. Já há algumas décadas a profissão de Jornalista, de uma forma geral, vem perdendo sua seriedade e sua credibilidade, com o repórter transformando-se cada vez mais numa espécie de mestre de cerimônias da espetacularização barata da notícia.

Faltava apenas um filme que demonstrasse isso. Não falta mais: Após ganhar Menção Honrosa na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário “O Abraço Corporativo”, dirigido pelo jornalista Ricardo Kauffman, estreia em circuito comercial. É o que se pode chamar de “filme-pegadinha”, um primeiro de abril magistralmente aplicado em toda uma sociedade.

Especificamente para o filme, foi criada a personagem fictícia de Ary Itnem, um consultor de RH que estaria trazendo para o Brasil a teoria britância do Abraço Corporativo. Com o apoio de uma boa assessoria de imprensa, Ary começa a divulgar pela mídia brasileira a chamada Teoria do Abraço, mecanismo que seria a solução para uma doença empresarial denominada Inércia do Afastamento, causada pelo uso excessivo das novas tecnologias.

Sim, tudo 100% inventado, sem nenhum tipo de base científica. Uma grande brincadeira que boa parte da imprensa brasileira engoliu facilmente, sem checar as informações, sem se preocupar em saber exatamente quem era o tal Ary, sem pesquisar a “matriz britânica” da Teoria, enfim, sem nada. Era pegar o press release, marcar entrevista com o falso consultor, e despejar na mídia todo e qualquer cabedal de mentiras que o entrevistado destilasse.

O grande mérito do filme é expor a fragilidade atual da nossa imprensa, que conta, de uma forma geral, com redações incipientes, e donos de veículos se preocupando muito mais em contratar estagiários baratos que profissionais gabaritados. O resultado disso tudo é visível não apenas no dia-a-dia dos nossos veículos de informação, como também neste bem-vindo documentário produzido durante cinco anos de forma totalmente independente, sem patrocinadores.

Um filme genial para ser visto por todos que fazem – e consomem – mídia.