O AMARGO SABOR ESCURO DE “OS INIMIGOS DA DOR”.

Por Celso Sabadin.

Um jovem alemão perdido pelas ruas de uma periferia qualquer do Uruguai. Perturbado, ele mal fala espanhol, entende pouco, parece procurar alguém ou alguma coisa. Uma mulher, talvez. Uma mulher, com certeza.

Com este tímido fio de história, a coprodução uruguaio-brasileira “Os Inimigos da Dor” é muito mais um filme de clima que propriamente um filme de trama. O diretor Arauco Hernández, que foi diretor de fotografia do premiadíssimo “Gigante”, consegue imprimir à sua obra um incômodo tom de busca desequilibrada, de desencontros e desconfortos, de medo e falta de chão, tudo potencializado pela sempre desesperadora incomunicabilidade dos idiomas, que tantas vezes assola até quem fala a mesma língua.

Em belíssimos tons escuros, a noite de Montevidéu exala um assombro, uma lugubridade e até, por que não, uma umidade que saltam da tela com vigor. Tipos do submundo emergem aqui e ali sem aviso, agridem, desaparecem com a mesma rapidez que apareceram.  O clima é de eterna ameaça, de segurança desejável, de paz impensável.

Selecionado para a competição oficial do Festival de Locarno, “Os Inimigos da Dor” é um belo trabalho sensorial que marca mais uma vez a força e o talento do cinema produzido (neste caso, coproduzido) no pequeno e competente vizinho Uruguai.

A estreia no Brasil é em 5 de maio.