O ANO CINEMATOGRÁFICO COMEÇA BEM COM “PROCURANDO ELLY”.

Oito jovens na faixa dos 30 anos e algumas crianças vão passar um final de semana na praia. Na casa alugada à beira mar, tudo é festa, risos, paqueras, brincadeiras, música e dança. Até que um misterioso desaparecimento provoca pânico e desespero no grupo. Segredos escondidos – e talvez um cadáver – precisam vir à tona.

Falando assim, de forma simples, a sinopse pode até fazer supor que “Procurando Elly” seja somente mais um filme de suspense convencional, na linha Eu Sei o Que Vocês Fizeram, etc.etc. etc… Nada disso. Surpreendentemente, o filme é iraniano. Sem cabras, nem desertos, nem crianças solitárias, como faz crer nosso imaginário coletivo sobre o assunto, sempre um tanto estereotipado, é verdade.

Trata-se do quarto longa do diretor Asghar Farhadi, e do primeiro a estrear comercialmente no Brasil. Todos os seus filmes são premiados, e este “Procurando Elly” em especial levou o cobiçadíssimo Urso de Prata de melhor direção em Berlim. Não por acaso. Em sua primeira parte, o filme é bem sucedido na difícil tarefa de atrair a empatia do público para nada menos que oito personagens, praticamente todos eles protagonistas. No momento do desaparecimento, da virada do roteiro, a direção é brilhante: planos fechados, câmera na mão, ausência de trilha sonora e ótimas interpretações criam uma sufocante sensação quase insuportável de desespero. E o desenrolar da trama, com a inclusão de mais um personagem chave, conduz o interesse até seu momento final.

Isso não significa, porém, que Farhadi se rende aos cânones do cinemão comercial. Pelo contrário, ele se apodera desta suposta ocidentalização da trama e aproveita para colocar em pauta o tão discutido papel da mulher num Irã, hoje dividido, que passa por profundas crises religiosas e transformações sociais. Mais do que um “simples” desaparecimento, o filme aborda questões de honra faminina que podem até soar ultrapassadas aos nossos ouvidos ocidentais, mas que são de fundamental importância num país de orientação fundamentalista.

Um belo filme para começar bem o ano cinematográfico.