O ANO CINEMATOGRÁFICO COMEÇA BEM COM “THE SQUARE”.

Por Celso Sabadin

 

Se eu colocar um objeto qualquer no recinto de exposições de um grande museu, este objeto torna-se uma obra de arte? Este é apenas o primeiro entre os vários questionamentos provocados pelo perturbador “The Square”, filme que em português ganha o dispensável subtítulo de “A Arte da Discórdia”. Apenas o primeiro questionamento, e longe de ser o mais importante.

Com roteiro e direção de Rubem Ostlund (o mesmo do excelente “Força Maior”), o que parecia ser um ato de solidariedade na verdade é a encenação do que virá a ser um roubo; o que parecia uma performance artística torna-se um cruel ato de violência; o que deveria ser uma tentativa de justiça transforma-se numa vingança racista que por sua vez vira mais um capítulo na interminável tragédia dos excluídos. Os mesmos excluídos que permearão toda a trama com sua muda capacidade de incomodar os supostos “incluídos”, invariavelmente cegos pelas limitações de suas próprias hipocrisias.

Sarcasticamente, tudo acontece no asséptico universo das artes, e capitaneado por um curador (Claes Bang, ótimo) que se vê perdido tanto na administração de seu museu como na de sua própria vida. A direção faz com que “The Square” exale suspense e transpire indignação da primeira à última cena. Um verdadeiro filme de horror onde os monstros horrendos e os vampiros sanguessugas não são seres sobrenaturais, mas estão em cada esquina. Ou somos nós mesmos.

A dupla de marqueteiros sem noção (com o perdão da redundância) dispostos a qualquer ato sem caráter em troca de uma boa viralização na internet é a cereja deste bolo de delicioso sabor esquisito.

Coproduzido entre Suécia, Alemanha, França e Dinamarca, e vencedor da Palma de Ouro em Cannes, “The Square” estreia nesta quinta, 4 de janeiro.