“O ANO MAIS VIOLENTO” CONFIRMA E REFORÇA O TALENTO DE J.C. CHANDOR.

Por Celso Sabadin.

Há uma fala das mais significativas em “O Ano Mais Violento”: “O resultado nunca é uma questão para mim, e sim o caminho que você toma para chegar lá”. Através do personagem, parece que o diretor J.C. Chandor está falando de seu próprio filme. Ou seja, o que acontece na trama não é tão importante quanto os caminhos que Chandor escolheu para contá-la. O filme é de uma elegância narrativa poucas vezes vistas ultimamente. Milimetricamente contido, cuidadosamente urdido em cada plano, em cada enquadramento, e maravilhosamente fotografado em tons pastéis e luzes e sombras de encher os olhos.

Ao contar a história sem pressa e com muita sobriedade, Chandor mantém um ininterrupto clima de suspense, envolvendo e dominando a atenção da plateia da primeira à última cena. Tudo isso prova que as notáveis qualidades narrativas e cinematográficas de seus dois primeiros longas, “Margin Call – O Dia Antes do Fim” e “Até o Fim”, não foram mero acaso: o sujeito realmente sabe o que faz. Valeu a pena “treinar” durante 15 anos fazendo curtas e comerciais para chegar na maturidade e segurança que demonstra nestes seus três primeiros longas.

A trama, igualmente escrita e roteirizada pelo diretor, é ambientada na violenta Nova York de 1981. É lá que o imigrante mexicano Abel Morales (Oscar Isaac) decide investir uma grande quantidade de dinheiro para expandir seus negócios relacionados ao transporte de petróleo. A ideia é comprar um terminal portuário e tornar-se mais livre e mais independente em seu setor. Há porém, no mínimo dois grandes problemas para que o negócio se concretize: como Morales não tem o dinheiro suficiente para a transação, ele toma um empréstimo de um poderoso grupo judeu, e talvez não tenha como pagar em tempo. E, obviamente, seus nada éticos concorrentes farão de tudo para que Morales não consiga sua tão sonhada independência. Tudo isso, porém, é apenas a ponta de um iceberg de traições, preconceitos raciais, dramas familiares e entraves policiais que perseguirão o empresário mexicano.

Ainda estamos em abril, mas na minha opinião “O Ano Mais Violento” está, ao lado de “Força Maior”, entre os dois melhores filmes exibidos no Brasil neste 2015. Por sua sobriedade, elegância, direção segura e pela sua habilidade em entremear de forma emotiva e empolgante o mundo do crime com relacionamentos familiares, podem me chamar de exagerado, mas comparo “O Ano Mais Violento” com “O Poderoso Chefão”.

Ano passado, ele venceu os prêmios de Melhor Filme, Ator (Oscar Isaac) e Atriz Coadjuvante (Jessica Chastain) no National Board of Review.

E vale o toque: apesar do título, não há violência gráfica, explícita, muito menos gratuita no filme.