O ANO NOVO COMEÇA EM GRANDE ESTILO COM “O MELHOR ESTÁ POR VIR”

Celso Sabadin.

Nanni Moretti é de fato um grande cineasta, capaz de obter ótimos resultados cinematográficos tanto no rigor clássico e dramático do seu trabalho anterior, “Tre Piani”, como mergulhando no registro paródico e sarcástico da sua mais recente realização: o impagável “O Melhor Está Por Vir”.

Há alguns filmes dentro do filme “O Melhor Está por Vir”. O primeiro e mais explícito é um longa de época que o cineasta Giovanni (não por acaso, interpretado pelo próprio Moretti) está fazendo sobre a crise de identidade que se abateu sobre o comunismo internacional, após a invasão da Hungria pela União Soviética, em 1956.

Paralelamente, o jovem diretor Giuseppe (Giuseppe Scoditti) está dirigindo um filme produzido por Paola (Margherita Buy), que também é a produtora de Giovanni. Trata-se de um longa repleto de violência gráfica e explícita que – segundo seu diretor – tem inspiração shakespereana.

Mais sutilmente, existe ainda um filme imaginário que se passa somente nos sonhos de Giuseppe: um romance autobiográfico em flash back no qual ela tenta dirigir seu passado.

Isso sem falar, é claro, no filme em si, este que apregoa que “O Melhor Está por Vir”. Olhando com mais atenção, encontraremos outros.

Escrito a oito mãos (por Francesca Marciano, Federica Pontremoli, Valia Santella e pelo próprio diretor), o roteiro de “O Melhor Está por Vir” flui com rara desenvoltura pelas crises de seu protagonista, que passa por um turbilhão de inseguranças provocadas pelos tempos contemporâneos. Ele já não se sente mais capaz de realizar os projetos que acreditava que realizaria, fica possesso com a gratuidade da violência do filme de seu colega Giuseppe, põe-se nostálgico em relação aos tempos passados. Mas tudo isso com muita comicidade, destilando um raro humor ácido-corrosivo que nos leva tanto ao riso como à reflexão. A cena da crítica à Netflix, por exemplo, já pode ser considerada antológica.

“O Melhor Está por Vir” pode até ser considerado um filme sobre o envelhecimento e a passagem de tempo, mas nunca de forma negativa ou depressiva. Pelo contrário: Moretti até arrisca um palpite que o cinema sul-coreano salvará a pasmaceira da atual produção cinematográfica direcionada ao mercado.

Afinal, o melhor está por vir, não está?

Deliciosamente utópico, o filme estreia nesta primeira quinta-feira do ano em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Aracaju, Florianópolis, Curitiba, Maceió, Niterói e Recife.