“O ARTISTA”, EM UMA PALAVRA, É IMPERDÍVEL.

Filme mudo, coproduzido por França e Bélgica, e em preto e branco. Quem é o louco que vai querer ver isto? Fácil: o louco por cinema, louco por sensibilidade, louco por qualidade e louco por um grande filme. Navegando na contra mão do 3D e dos efeitos pirotécnicos, “O Artista” é uma das experiências cinematográficas mais gratificantes dos últimos tempos. Dizer que ele é uma declaração de amor ao cinema é óbvio. Óbvio e pouco: o filme tem um subtexto genial que critica a exclusão cinematográfica de tudo o que não vier dos EUA. Mas não vale falar sobre isso agora, para não estragar a cena final.

O roteirista e diretor parisiense Michel Hazanavicius começa a contar a história em 1927, ano em que o cinema ainda era mudo. Pelo menos até outubro, com a estreia de “O Cantor de Jazz”. É nesta época áurea e romântica que um dos mais famosos atores da telas, o fictício George Valentin (Jean Dujardin), casado, se apaixona por uma figurante, a bela e extrovertida Peppy Miller (a argentina Bérénice Bejo). Mas o romance fica preso na garganta, pois ambos sabem se tratar de um amor impossível. Pouco depois, porém, Hollywood passa pela revolução do cinema falado, a Bolsa de Nova York quebra, e o mundo se transforma. Hora de serem colocados em cheque aqueles valores que não se dissolvem diante das revoluções tecnológicas ou financeiras: lealdade, orgulho, admiração, carinho, paixão. Tudo isso com um visual arrebatador da primeira à última cena, onde fotografia e reconstituição de época nunca são menos que espetaculares.

Certamente “O Artista” é um filme cheio de referências e brincadeiras cinematográficas (como o astro, sozinho, caminhar pelas ruas sob a marquise de um cinema que exibe “Lonely Star”, ou a estrela usar a famosa frase de Greta Garbo, “I Want to be Alone”), mas quem não for cinéfilo de carteirinha também vai apreciar. Basta tem o coração aberto para o drama sentimental e, claro, assisti-lo no cinema.
Ver ”O Artista” em tela pequena chega a ser heresia.