O BELÍSSIMO “SOL” QUE ILUMINA A MOSTRA DE SÃO PAULO.

Por Celso Sabadin.
O chamado “road movie” pode ser considerado praticamente um sub gênero. Seus cânones são sempre muitos parecidos: personagens que, a princípio, trazem diferenças abissais entre si, são forçados a empreender uma viagem durante a qual polirão suas arestas, percorrerão um arco dramático redentor, e terminarão o filme como pessoas bem melhores.
O que eu mais acho fascinante nesta formulação é como ela pode resultar tanto em clichês dos mais sonolentos, como em obras primas inesquecíveis (“Central do Brasil”, “Espantalho”, etc). É a magia do cinema, que extrai resultados dos mais díspares de estruturas das mais convencionais.
Dentro destes parâmetros, estreia na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo um “road-movie” que pende muito mais para o lado da obra-prima: “Sol”, escrito e dirigido por Lô Politi.
A trama fala de Theo (Rômulo Braga), um desenhista que tira uns dias de férias especialmente para passar um tempo com sua filha Duda (ótima intepretação da estreante Malu Landim). Mas logo no início do que deveria ser um reencontro entre pai e filha, Theo recebe a notícia que seu pai (Everaldo Ponte, ótimo como sempre) está às portas da morte. Totalmente a contragosto de Theo, ele deverá – junto com a filha – viajar de Salvador até o interior, para providenciar o funeral. Porém, o ótimo roteiro reserva algumas surpresas para todos.
Às vezes fica difícil para o crítico tentar explicar para o público como uma linha de argumento tão comum pode proporcionar um filme tão positivamente fora da curva. “Sol” parece ser aqueles raros exemplos em que tudo dá certo: a química entre os atores; o perfeito equilíbrio entre os tempos silenciosos reflexivos e as necessárias ações que garantem a fluidez da trama; o nítido capricho artesanal das luzes, cores e enquadramentos (a fotografia é de Breno César); a riqueza das subtramas não explicitadas mas vividamente imaginadas e – claro – a sensibilidade da direção que nos leva pelos caminhos físicos do interior baiano com o mesmo encantamento que nos transporta pelas estradas afetivas desta improvável família que se forma durante a viagem.
“Sol” já entrou para a minha seleta lista dos melhores filmes do ano.
O filme terá sua première no país na 45a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo apenas sessões presenciais. Anote:
27/10/21 – 20:30 – ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – AUGUSTA SALA 1.
28/10/21 – 14:00 – ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – AUGUSTA SALA 3.
30/10/21 – 13:30 – ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – FREI CANECA 5.
Lô Politi é diretora e roteirista. Seu primeiro longa, “Jonas”, em que assina direção e roteiro, recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional do Rio e participou de mais de dez festivais internacionais. Atualmente, está disponível no catálogo da Netflix em 190 países.
“Sol” é seu segundo filme de ficção, em que também assina direção e roteiro. Lô também dirigiu, em parceria com Anna Muylaert o documentário “Alvorada”, sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Roussef, lançado em maio de 2021.
Atualmente, a diretora trabalha na pré-produção de seu terceiro longa ficção: “Meu Nome é Gal”, a ser codirigido com Dandara Ferreira, com lançamento previsto para o final de 2022.