O BELO CINEMA AUTORAL DE SOKUROV ENCANTA EM “ALEXANDRA”.

Aos 57 anos de idade, o russo Alexander Sokurov é um dos cineastas mais autorais atualmente em atividade neste mercado cada vez mais global. Seus filmes tem uma estética própria, de pouca ou nenhuma concessão comercial. São quase sempre “lavados” ou escuros, passando longe das fáceis cores fortes, de roteiros densos e intensos, e uma utilização de música e som raramente ouvida no cinema. “Moloch” e “O Sol”, apenas para citar dois exemplos, parecem ter saído diretamente de pesadelos para o celulóide. Enquanto “Arca Russa” detém uma espécie de recorde mundial ao contar sua história em 99 minutos de um único plano-sequência.

Em seu novo trabalho, “Alexandra”, Sokurov é mais leve e menos experimental. Mas sem deixar de ser hipnótico nem de demonstrar seu talento artesanal. Em poucas palavras, o filme é o retrato de uma visita. Alexandra é uma mulher solitária que se dispõe a tomar um trem sem nenhum conforto, repleto de soldados, para visitar o neto, Denis, um oficial russo acampado em algum canto poeirento do mundo (que mais tarde se percebe ser a Chechênia). As primeiras cenas são de total estranheza. Em meio a nuvens de poeira matizadas por uma fotografia árida e pálida, a figura da velha senhora tentando manter alguma elegância e dignidade no coração do rude ambiente militar é, no mínimo, perturbadora. Ao chegar no acampamento do neto, Alexandra toma contato com um novo e estranho mundo, ao mesmo tempo em que aproveitará a ocasião desta inusitada visita para – numa cena marcantemente bela – expurgar as mazelas de uma relação familiar conturbada.

O neto carinhosamente trança os cabelos da avó, segundos depois de uma violenta explosão de sentimentos há anos entalados na garganta. A russa Alexandra se torna amiga instantânea da chechena Malika, unindo duas emoções emolduradas por prédios destruídos e ocupações militares. A paz impossível para dois países é perfeitamente natural e imediata para duas velhas senhoras. Respira-se dicotomia a cada cena.

Tudo no estilo Sokurov de fazer cinema: sutilezas, detalhes, longos planos silenciosos, narrativa árida, sons estranhamente belos. Quem se deixar levar pelo estilo envolvente do cineasta certamente sairá do cinema recompensado.