O BELO E INDESVENDÁVEL “O SEGREDOS DAS ÁGUAS”.

Por Celso Sabadin.

Como é delicioso se deixar levar pelo ritmo contemplativo, poético e por vezes até cruel do cinema do Japão! Ainda que coproduzido com França e Espanha, é sem dúvida do lado japonês desta produção que nasce toda a poesia de “O Segredo das Águas”, de Naomi Kawase. Trata-se do 13º longa da diretora, cuja obra é das mais reconhecidas em importantes festivais internacionais. Mas este é apenas o primeiro a chegar no circuito comercial brasileiro. O roteiro também é dela.

“O Segredo das Águas” se centra em dois jovens protagonistas que vivem numa pequena cidade praiana, numa ilha no Japão: Kaito (Jun Yoshinaga) e Kyoto (Nijirô Murakami). Ele, o típico adolescente fechadão, de muitos pensamentos e poucas falas. Ela, uma verdadeira personificação da alegria de viver, que não se importa em sair da escola e mergulhar totalmente vestida apenas pelo prazer de um breve banho de mar. Cada um à sua maneira, Kaito e Kyoto têm sérias e dolorosas questões para resolver com suas respectivas mães. Problemas tão inevitáveis quanto à própria inevitabilidade do processo pelo qual eles estão passando: o de crescer, o de enfrentar a difícil missão de se tornar adultos.

Ao redor de todos e de tudo, o onipresente mar, a força e o mistério da água, elemento dos mais simbólicos, presentes e representativos da milenar cultura nipônica, metáfora ao mesmo tempo da vida e da morte. Kyoto ama o mar; Kaito tem nojo. E é deste mar, belissimamente fotografado nas cenas iniciais, que emerge um misterioso corpo que agita a pacata existência da pequena vila. Fazendo emergir todo um turbilhão de emoções que marcarão as vidas dos protagonistas.

Trazendo uma das mais belas e emocionantes cenas de despedida que eu vi nos últimos anos no cinema, “O Segredo das Águas” concorreu na Mostra Competitiva de Cannes do ano passado, mas não chegou a ser premiado.

No filme, alguém fala que nunca se sabe o que se pode encontrar dentro do mar. Mas alguém sabe o que se pode encontrar fora dele?