O BELO “STELLA” É UM SENSÍVEL PAINEL SOBRE A PRÉ-ADOLESCÊNCIA.

“Stella” é uma produção francesa sobre uma garota de 11 anos que passa por uma série de transições emocionais e afetivas. Falando assim, pode parecer que se trata apenas de mais um filme sobre “ritos de passagem”. De mais um filme sobre conflitos adolescentes e pré-adolescentes. De mais um filme sobre problemas de adaptação escolar. “Stella” pode ser tudo isso. Menos “apenas mais um filme”.

A roteirista e diretora Sylvie Verheyde realizou um trabalho extremamente passional e autoral. E nem poderia ser diferente, já que a Stella do título é ninguém menos que a própria Sylvie: o filme é totalmente autobiográfico.
Tudo acontece no final dos anos 70, momento em que Sylvie… aliás, Stella… é transferida para um novo colégio, onde vai cursar a 5ª. série. Lá, todos parecem ser mais ricos e mais esnobes, o que faz com que a garota se desinteresse completamente dos estudos. Por outro lado, o ambiente familiar também não ajuda. Seus pais são proprietários de um bar decadente, onde no andar de cima moram diversos tipos de desclassificados sociais. Tudo parece conspirar contra o futuro sadio da menina.

Porém, “Stella” não é um filme marcado pelos famosos tédio e depressão crônicos típicos dos franceses. Pelo contrário, ele acena com otimismo e redenção para um provável futuro melhor, que pode estar nos menores detalhes. Seja numa paixão pré-adolescente, num novo disco, numa troca de papel de parede, ou na descoberta dos prazeres da leitura. Descoberta, aliás, que rende um dos momentos mais poéticos do filme: Stella, para não passar atestado de burrinha para sua melhor amiga, diz ser leitora assídua de Cocteau. Mais tarde, vai a um sebo e começa a procurar por bons livros. Observando as prateleiras, carrega consigo um certo ar de culpa, como se estivesse fazendo alguma coisa errada. Sorrateiramente, compra um livro. E sai correndo com ele feliz pela rua, como que inaugurando uma nova e rica fase de sua vida. Uma corrida libertária e redentora.

Muito da força do filme vem da competência de seu ótimo elenco, com destaque para as estreantes Léora Bárbara, no papel principal, e Melissa Rodrigues, como a amiga Gladys. O destaque triste fica para Guillaume Depardieu (filho de Gerard), que faleceu um mês antes da estreia do filme na França.