“O BOM GIGANTE AMIGO”, UM SPIELBERG MAIS CONTEMPLATIVO.

Por Celso Sabadin.

Muito se apressou em detonar “O Bom Gigante Amigo”, o mais recente trabalho de direção de Steven Spielberg. As primeiras e imediatas opiniões foram no sentido do filme não ter ritmo, de ser excessivamente longo (117 minutos), de ter pouca aventura e até de ser sonolento. Eu mesmo saí do cinema com a incômoda sensação dele ter terminado antes mesmo de ter começado.

Porém, acredito que o “O Bom Gigante Amigo” merece uma leitura menos imediatista. Mesmo porque, se antigamente Raul Seixas condenava “a velha opinião formada sobre tudo”, nos nossos novos tempos esta tal opinião precisa ser formada imediatamente, em tempo recorde, sem pausas para reflexão (há até assessores de imprensa que cobram dos jornalistas opiniões rápidas e curtas logo após o término da sessão, o que é extremamente desconfortável).

Refletindo com mais vagar (o mesmo vagar do filme), talvez Spielberg esteja realmente propondo um novo ritmo. Talvez o próprio cineasta, o grande mago das aventuras infanto-juvenis durante mais de três décadas, esteja ele próprio, prestes a completar 70 anos no próximo mês de dezembro, cansado da velocidade estonteante (e não pensante) que o cinema vem propondo desde a era do videoclipe, iniciada no final dos anos 70.

O fato é que temos aqui um Spielberg diferenciado, que busca o público infantil  desta vez sem bicicletas voadoras, mas com uma lenta e segura sedução narrativa que encanta sem pressa. Afinal, trata-se de um filme sobre um gigante, um ser enorme e envelhecido de movimentos lentos, que foge de seus inimigos não com velocidade, mas com a sabedoria da camuflagem, do se fazer esconder. Vale pensar nisso.

“O Bom Gigante Amigo” marca o último roteiro de Melissa Mathison, a mesma de “E.T.”, falecida em 2015. A inspiração foi o livro de Roald Dahl, o mesmo escritor cujos livros originaram “Os Gremlins” e “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, entre outros.