O BRASIL PERIFÉRICO, MARGINAL E CLAUSTROFÓBICO DE “HOMEM LIVRE”.

Por Celso Sabadin.

Uma pequena igreja evangélica na periferia é o epicentro de “Homem Livre”, filme que marca a estreia do até então curta-metragista Alvaro Furloni na direção de longas. Conscientemente ou não, inadvertidamente ou não, o drama roteirizado por Pedro Perazzo acaba se transformando num microcosmo do Brasil, no momento em que o país vem se transformando ele próprio numa claustrofóbica igreja evangélica da periferia mundial comandada por um arremedo de pastor de intenções pra lá de duvidosas que, assim como o protagonista do filme, tenta dar guarida a um criminoso perturbado.

Ao contar a história de Hélio (Armando Babaioff), ex-presidiário  que se abriga sob as asas do pastor interpretado por Flávio Bauraqui, que por sua vez tem planos pouco louváveis para o seu protegido, “Homem Livre” acaba simbolizando o triste momento em que vivemos, repleto de intenções escondidas, passados criminosos, verdades inconfessáveis e muita sujeita varrida sob o tapete.

O destaque fica por conta dos ótimos climas de suspense e dramaticidade que Furloni consegue imprimir neste seu longa debutante. Desde a primeira cena, acompanha-se a trama com interesse, na medida em que o jamais dito, o não explicitado, vai ganhando corpo e densidade durante a narrativa que em momento algum cede a soluções fáceis nem cai no caricato que o espinhoso tema poderia proporcionar. “Homem Livre” também explicita uma ótima direção de atores que consegue equalizar o elenco sempre num elevado registro de qualidade, emprestando veracidade e credibilidade às ações que – embora intimistas – soam universais.

Depois dos curtas “Quem vai chorar quando eu morrer?” (2005), “Frio” (2006), “Holanda” (2007), “Esconde-Esconde” (2007),  “Tem Alguém Feliz em Algum Lugar” (2015) e “O Homem na Caixa” (2018), Furloni demonstra maturidade e segurança na direção de seu longa, que chega ao circuito a partir de 21 de fevereiro.