O CALDEIRÃO DE REFERÊNCIAS DO PROVOCADOR “CARRO REI”.
Por Celso Sabadin.
Quem conhece a obra da diretora Renata Pinheiro e do roteirista Sérgio Oliveira (tem mais informações sobre eles no final desta matéria) sabe que se poderia esperar de tudo do novo filme deles. Exceto algo clássico e tradicional. Não deu outra: “Carro Rei” pode não ser o melhor longa do ano, mas certamente é um dos menos preocupados com as convenções narrativas e formais e, principalmente, com as aspirações do famoso deus mercado.
A história começa no início deste século, com o nascimento de uma criança dentro de um Fiat Uno. Seus pais comandam uma frota de táxis, e seu tio é mecânico. Há um corte de tempo que nos revela que o bebê cresceu: ele se chama Uno da Silva (Luciano Pedro Jr), e possui a estranha habilidade de se comunicar com carros. Zé Macaco (Matheus Nachtergaele), o tio mecânico de Uno, fica encantado com os “poderes” do sobrinho, o que desencadeará – acredite ou não – uma aventura de ficção científica distópica ambientalista potencializada pelas rudezas e a aridez do sertão de Pernambuco.
“Carro Rei” mistura no mesmo balaio as mais deliciosas, divertidas e inquietantes referências à cultura social e política das últimas décadas, incluindo guerrilhas urbanas, Mad Max, movimentos ecológicos, Disco Music, realismo fantástico, Disney, John Carpenter, Shyamalan, e por aí vai. Tudo emoldurado por cores e sons estridentes e uma direção de arte que junta – digamos – o pós apocalíptico à estética da fome, propondo uma viagem sensorial desconectada dos cânones dogmáticos do cinema mainstream.
O cinema pernambucano não deixa nunca de nos surpreender!
O longa foi o grande vencedor do Festival de Gramado 2021, levando os Kikitos de Melhor Filme, Melhor Direção de Arte, Melhor Som, Melhor Trilha Sonora, e também do Prêmio Especial do Júri para a atuação de Matheus Nachtergaele.
E estreia é nesta quinta, 30/o6, em cinemas de Belo Horizonte, Caruaru, Curitiba, João Pessoa, Niterói, Palmas, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.