O CALDEIRÃO DE REFERÊNCIAS DO PROVOCADOR “CARRO REI”.

Por Celso Sabadin.

Quem conhece a obra da diretora Renata Pinheiro e do roteirista  Sérgio Oliveira (tem mais informações no final desta matéria) sabe que se poderia esperar de tudo do novo filme deles. Exceto algo clássico e tradicional. Não deu outra: “Carro Rei” pode não ser o melhor longa que veremos em Gramado este ano, mas certamente é um dos menos preocupados com as convenções narrativas e formais e, principalmente, com as  aspirações do famoso deus mercado.

A história começa no início deste século, com o nascimento de uma criança dentro de um Fiat Uno. Seus pais comandam uma frota de táxis, e seu tio é mecânico. Há um corte de tempo que nos revela que o bebê cresceu: ele se chama Uno da Silva (Luciano Pedro Jr), e possui a estranha habilidade de se comunicar com carros. Zé Macaco (Matheus Nachtergaele), o tio mecânico de Uno, fica encantado com os “poderes” do sobrinho, o que desencadeará – acredite ou não – uma aventura de ficção científica distópica ambientalista potencializada pelas rudezas e a aridez do sertão de Pernambuco.

“Carro Rei” mistura no mesmo balaio as mais deliciosas, divertidas e inquietantes referências à cultura social e política das últimas décadas, incluindo guerrilhas urbanas, Mad Max, movimentos ecológicos, Disco Music, realismo fantástico, Disney, John Carpenter, Shyamalan, e por aí vai. Tudo emoldurado por cores e sons estridentes e uma direção de arte que junta – digamos – o pós apocalíptico à estética da fome, propondo uma viagem sensorial desconectada dos cânones dogmáticos do cinema mainstream.

O cinema pernambucano não deixa nunca de nos surpreender!

 

Conhecendo RENATA PINHEIRO

Em “Carro Rei”, Renata Pinheiro volta a trabalhar com o diretor e roteirista Sergio Oliveira, com quem trabalha desde seu primeiro curta (“Superbarroco”), e com quem codirigiu vários filmes. Leo Pyrata também coassina o roteiro.

Renata é graduada em artes visuais pela UFPE, foi artista residente na John Moore University, Inglaterra; e estudou no INA (Institut Nacional de L’Audivisuel), França. Partindo da premissa da universalidade da linguagem visual, Renata tem como característica de suas obras a criação de narrativas emocionais elaboradas a partir de construções imagéticas ousadas e vigorosas. Em 2020 lança o curta MANSÃO DO AMOR na Mostra de Tiradentes. O curta é premiado com melhor direção no Bangalore Film Festival, Índia 2020. Em 2018, Renata, em codireção com Sergio Oliveira, estreou o longa AÇÚCAR no IFFR (Festival de Roterdã, Holanda). Recebeu prêmio de Melhor filme pelo júri da crítica no Festin Lisboa, Pt, 2018 (Festival de Cinema da Língua Portuguesa). Seu primeiro longa, AMOR, PLÁSTICO E BARULHO (2013), estreou no Festival de Brasília recebendo três prêmios. O filme também foi exibido no IndieLisboa (Portugal) e ABRAFFTY Fest (Canadá), onde ganhou os prêmios de melhor filme, melhor diretor, melhor atriz e atriz coadjuvante. PRAÇA WALT DISNEY recebeu prêmio de melhor filme no San Diego Film Fest, EUA, além de mais de 50 prêmios em festival do mundo.  SUPERBARROCO, seu primeiro curta, estreou no Festival de Cannes – Quinzena dos Realizadores, 2009, e recebeu mais de 45 prêmios ao longo da sua carreira. Seu mais recente trabalho como diretora de arte foi para ZAMA, de Lucrecia Martel, pelo qual ganhou diversos prêmios como Fênix e Platino. Renata Pinheiro vive e trabalha em Recife.