O CAOS URBANO COMO VILÃO DO POÉTICO “ABAIXO A GRAVIDADE”.

Por Celso Sabadin.
 
O cinema poético, libertário, onírico e muito particular de Edgard Navarro está de volta. Em seu novo longa, “Abaixo a Gravidade”, o cineasta baiano acompanha a trajetória de Bené (Everaldo Pontes), um velho sábio que vive solitária e pacatamente em total sintonia com a belíssima natureza da Chapada Diamantina. Tudo segue em harmonia até o momento em que ele conhece Letícia (Rita Carelli), uma jovem grávida – e igualmente solitária – por quem ele se encanta. Num primeiro momento, não fica explicitada a origem do tal encantamento, que pode ser o desabrochar de uma relação paterna, uma troca de carências solitárias, ou algo mais ligado à sensualidade.
 
Porém, quando a garota se muda para Salvador, Bené resolve abandonar seu pequeno paraíso particular e a segue até a capital. É ali que o desequilíbrio urbano e o caos social passarão a decidir incisivamente sobre este par de “outsiders” que terão suas vidas transformadas na medida em que se encontram e se desencontram com marcantes personagens da paisagem soteropolitana. Entre eles Maisselfe (Bertrand Duarte), um classe-média em crise; o irascível Galego (Ramon Vane) e o sonhador Mierre (Fabio Vidal).
Quem já viu “Eu Me Lembro” (2005), “O Homem que Não
Dormia” (2011) e “Superoutro” (1989) sabe o que pode esperar de Edgard Navarro: despojamento narrativo, criatividade, a tentativa incansável da construção de um universo de sonhos e sentimentos à flor da pele, lirismo. E sabe o que não vai encontrar: mesmice.
 
“Abaixo a Gravidade” ganhou três prêmios no 12º Fest Aruanda: Melhor Filme (júri Abraccine), Melhor Direção de Arte (Moacyr Gramacho) e Melhor Ator Coadjuvante (Ramon Vane – In Memoriam).