O Casamento de Romeu & Julieta

Entre as inúmeras discussões que se promovem em torno do cinema brasileiro, há uma que se destaca: a imagem de pobreza e miséria que estaríamos levando para o mercado internacional. De um lado se colocam os defensores de um cinema menos “agressivo”, com menos favelas e violência. Do outro, os que acreditam no cinema-verdade, que mostre ao mundo o jeito real que somos e vivemos. Não é o propósito desta crítica dissecar este tipo de discussão, que parece ser interminável, mas apenas levantar uma breve pergunta: será que o cinema brasileiro TEM que ser alguma coisa? Obrigatoriamente? Sou fã incondicional de obras tidas como “fortes” como Cidade de Deus e Contra Todos, ao mesmo tempo em que defendo com unhas e dentes o direito de todo e qualquer cineasta nacional de produzir as chamadas “Sessões da Tarde”, como Cristina Quer Casar e Bossa Nova. Tudo isso para dizer que curti bastante a nova “Sessão da Tarde” de Bruno Barreto, O Casamento de Romeu & Julieta.
Levemente baseado num conto de Mário Prata, o filme mostra as divertidas encrencas em que se metem o corintianíssimo Romeu (Marco Ricca, ótimo como sempre) e a palmeirense Julieta (Luana Piovani, também convincente). Assim como os Capuletto e os Montecchio da famosa peça de Shakespeare, as duas famílias dos jovens apaixonados não podem sequer pensar num casamento “misto”, isto é, entre palmeirenses e corintianos. Romeu e Julieta decidem então tentar esconder as diferenças, mas a mentira vai aumentando em proporções geométricas, dando margem a situações bem divertidas. E só. Nada mais. O diretor Bruno Barreto, assim como fez em Bossa Nova, só desejou fazer uma comédia romântica leve, sem pretensões, e é assim que o filme deve ser encarado. Divertimento leve e ligeiro, para rir e curtir. Qualquer análise mais profunda seria procurar chifre em testa de burro.
O Casamento de Romeu & Julieta cumpre o que promete, ainda que esbarre em duas falhas que poderiam ter sido evitadas. Primeiro, Luiz Gustavo, por melhor ator que seja (e ele é) não convence nem um pouco na pele de um italianão paulistano. Típico erro de miscasting. E, segundo, as cenas de futebol propriamente ditas são muito infantis, com cara de ensaio mal feito. Ugo Giorgettii com seu inesquecível Boleiros já havia resolvido este problema de forma pra lá de eficiente, contratando jogadores profissionais para ensaiar as jogadas a serem filmadas. Fora isso, o filme diverte de forma simpática e despojada.