“O CÉU É DE VERDADE” DESPERDIÇA BOM TEMA COM SENTIMENTALISMO FRÁGIL.

“Jesus não escolheu o caminho mais fácil ao morrer na cruz”, diz o pastor Todd Burpo (Greg Kinnear) aos frequentadores de sua igreja, no drama “O Céu é de Verdade”. Infelizmente, porém, o roteirista e diretor do filme, Randall Wallace (que também dirigiu “O Homem da Máscara de Ferro” e “Fomos Heróis”) escolheu. A trama, que poderia ter rendido discussões das mais interessantes e provocativas a respeito de fé, religião e intolerância, perde-se na superficialidade das emoções fáceis de Wallace.

A partir de fatos reais registrados no livro escrito pelo próprio Todd Burpo, “O Céu é de Verdade” conta a história do garotinho Colton (o estreante Connor Corum), filho do pastor Todd, que após passar por uma cirurgia onde quase morreu diz ter visitado o céu e se encontrado com o próprio Jesus Cristo. O que poderia ser apenas um devaneio de criança ganha contornos mais misteriosos quando Colton revela aos pais fatos que ele não teria como saber, não fosse por alguma experiência sobrenatural.

A partir daí, o filme abre uma série de possibilidades, das quais nenhuma é explorada. Vejamos: há toda uma primeira parte da história, talvez até um pouco longa demais, dedicada a mostrar como a pequena cidade do interior do Nebraska onde a ação transcorre é feliz, unida e praticamente perfeita. A revelação do menino ameaça balançar esta suposta perfeição, já que sua família passa a ser vítima de gozações e bullying. Ou seja, a religiosidade é permitida desde permaneça restrita aos muros da igreja, mas se torna ameaçadora e até ridícula no caso de alguma experiência mais palpável. Esta vertente da hipocrisia – que poderia ser um dos pontos altos do filme – é apenas arranhada pelo diretor, que a abandona rapidamente, a ponto de quase invalidar todo o seu discurso anterior. A fé do pastor, também abalada pela revelação do seu filho, igualmente não consegue ser desenvolvida com uma razoável profundidade.
Wallace se perde na construção de imagens idílicas amparadas por uma trilha sonora açucarada, sempre em busca da sensibilização fácil do grande público. Outro grande erro foi transformar em imagens os relatos do garoto. Embora digam que um crítico deva sempre criticar o filme feito, e não o filme que ele gostaria de ter visto, é inegável que o resultado teria sido bem melhor se o diretor deixasse a cargo de cada espectador a sua própria interpretação das palavras e das descrições de Colton. Ao “filmar” o paraíso, “O Céu é de Verdade” traz momentos de constranger até a direção de arte de “Nosso Lar”.
Mas não deixa de ser interessante tomar contato com o que pode haver de real em toda a história, ainda que, no final das contas, fique-se com a sensação do filme ter desperdiçado o que poderia ser um ótimo tema.