“O CHALÉ  É  UMA  ILHA  BATIDA  DE  VENTO  E  CHUVA”, OU A SAUDADE EXPRESSA EM ÁGUAS E CARTAS.   

Por Celso Sabadin.

Se no restante do mundo o cinema norte-americano praticamente criou o subgênero “road movie”, nada mais justo que no norte do nosso país prolifere o – digamos assim – “river movie”. Afinal, naquela riquíssima (e belíssima) região, o transporte em particular e a vida em geral acontecem em função dos rios.

O poético documentário “O Chalé é uma Ilha Batida de Vento  e  Chuva” traça um afetivo retrato desta situação. O longa é livremente baseado na vida de Dalcídio Jurandir, um premiado mas pouco conhecido escritor brasileiro nascido em 1909 na Ilha do Marajó, e falecido 70 anos depois no Rio de Janeiro.

Na época do Estado Novo, Dalcídio foi preso por discordar do regime Vargas, e como castigo foi colocado em liberdade sob a condição de aceitar um emprego que ninguém queria: inspetor de escolas públicas na Ilha do Marajó. O trabalho “forçado” faz então que Dalcídio percorra os rios da região inspecionando as longínquas escolas sem estrutura, sendo obrigado a enfrentar grandes distâncias em profunda solidão. Numa época de comunicações precárias, as cartas que ele escrevia à sua esposa Guiomarina eram o único elo entre o escritor e a civilização

Com este ponto de partida, o longa recria nos dias de hoje o que poderia ter sido a viagem fluvial de Dalcídio, ao mesmo tempo em que utiliza a narração em off de suas cartas como linha narrativa.

Perscrutando as dores e os amores expressos nas cartas, “O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e  Chuva” resulta num documentário de forte teor emotivo que convida o espectador a uma viagem reflexiva empreendida no ritmo lento dos rios que embalam os profundos sentimentos do autor.  Presente e passado se unem comprovando que talvez esta distância temporal de 80 anos não seja tão grande assim neste nosso Brasil atual.

O filme tem direção e roteiro de Letícia Simões, a mesma de “Bruta Aventura em Versos” (2011, sobre a obra de Ana Cristina Cesar) e “Tudo vai ficar da cor que você quiser” (2014, sobre a obra de Rodrigo de Souza Leão).  “O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e  Chuva” tem recebido vários prêmios nacionais e internacionais em festivais pelo mundo.