O CHOQUE CULTURAL MINIMALISTA DE “O FUTURO PERFEITO”.

Por Celso Sabadin.

A imigração, não raramente empreendida por refugiados, é um dos temas “da hora” da mídia mundial e, consequentemente do cinema. A Argentina, que não poderia ficar fora desta tendência, também aponta suas câmeras para o assunto e realiza “O Futuro Perfeito”, vencedor do prêmio de Melhor Primeiro Filme no 69º Festival Internacional de Locarno.

A primeira cena de “O Futuro Perfeito” bebe direto na fonte de premiadas produções europeias bem sucedidas em festivais internacionais (“O Valor de Um Homem” e “Eu Daniel Blake”, só para citar rapidamente dois exemplos recentes), exibindo um longo plano fixo de um diálogo interrogativo no qual só se vê quem responde e só se escuta quem pergunta (Claro, os filmes de viés artístico também destilam fórmulas prontas). A “respondedora”, no caso, é Xiaobin (a convincente estreante Xiaobin Zhang), uma adolescente chinesa que vai tentar a vida em Buenos Aires sem saber uma palavra de espanhol. Neste interrogatório inicial já ficamos sabendo que os pais da garota desembarcaram antes na América do Sul. E que sequer cumprimentaram a filha quando ela chegou para ficar com eles, algum tempo depois, sinalizando uma relação mais que gélida.

É com esta frieza cortante que a alemã Nele Wohlatz dirige este seu longa de estreia na ficção. Minimalista ao extremo, “O Futuro Perfeito” acompanha o esforço da protagonista em tentar ser uma adolescente comum num país e numa família que lhe soam estranhos, potencializando as dificuldades de fincar suas raízes no novo solo estrangeiro. Não por acaso, seu elo afetivo com o novo país também é imigrante – o indiano Vigaj, vivido por outro estreante, Saroj Kumar Malik – já mais aculturado à Argentina, e que se apaixona por Xiaobin.

Entre sonhos, fantasias, namoro e tentativas de emprego, Xiaobin vai aprender que o tal “futuro perfeito” só existe na aula de conjugação de verbos.

O filme estreia nesta quinta, 13 de julho.