O CINEMA BRASILEIRO NÃO MERECIA “A GUERRA DOS ROCHA”

Depois de mais de uma década da chamada “Retomada” do Cinema Brasileiro, quando tantas vitórias foram alcançadas, parece que existe agora um movimento de retrocesso dos nossos filmes. Pelo menos duas novas comédias que chegam ao circuito destilam um ranço antiquado, uma forma ultrapassada e rasteira de se fazer cinema, um humor mofado, com data de validade vencida: “A Casa da Mãe Joana”, já em cartaz, e “A Guerra dos Rocha”, que estréia agora.

Dirigido pelo sempre histriônico Jorge Fernando (que também faz uma participação especial, na cena final) “A Guerra dos Rocha” mostra as desventuras de Dina (papel feminino estranhamente entregue ao ator Ary Fontoura), uma senhora inconveniente, que adora se meter na vida de todos, e que por isso mesmo é rejeitada pelos seus três filhos: o senador corrupto Marcos Vinicius (Diogo Vilela), o advogado hipocondríaco César (Marcelo Antony) e o compositor desencanado Marcelo (Lúcio Mauro Filho). Ninguém suporta a mãe por perto. No dia em que uma confusão no IML dá Dina como morta, a situação piora de vez. E o filme também.

“A Guerra dos Rocha” (título inspirado em “A Guerra dos Rose”, com Michael Douglas?) leva para o cinema o humor gritado, grosseiro e popularesco de programas globais do naipe de um “Zorra Total”. Paladares menos exigentes podem até curtir o programa televisivo, durante alguns minutos, numa noite chuvosa, entre uma cervejinha e outra. Mas a experiência levada à tela grande se torna insuportável. A música redundante e incessante, aliada aos gritos e berros constantes de um elenco inteiro que atua num tom acima do que seria aceitável, digamos, num picadeiro, fazem do filme uma comédia que oscila entre o irritante e o constrangedor, sem nenhum momento de inspiração.

O roteiro é de Maria Carmen Barbosa, baseado na peça “Esperando La Carroza”, do uruguaio Jacobo Langsner, que por sua vez já havia sido filmada pelo cinema argentino em 1985. Não vi o filme argentino, mas acredito que não tenha sido tão desastroso. Coerentemente com sua direção, o texto de “A Guerra dos Rocha” é primitivo, com situações patéticas, e desprovido de qualquer tipo de sutileza.

O elenco global – composto por nomes de reconhecido talento – se perde em caras e bocas dignos dos antigos teatros de revista e em interpretações exageradas impensáveis para a tela grande do cinema atual. Todos estão péssimos, o que sinaliza falha da direção, mas ninguém está pior que Giulia Gam.

Realizadores tanto de “A Casa da Mãe Joana” como de “A Guerra dos Rocha” se defendem argumentando que seus filmes seriam uma espécie de “homenagem” às antigas chanchadas da Atlântida, ou mesmo às pornochanchadas da época da ditadura militar. Pobres Oscarito e Grande Otelo… eles não mereciam tamanha “homenagem”.
E pobre cinema brasileiro, que lutou tanto para evoluir e de repente tropeça em aberrações como estas.