O CINEMA FALANDO DE SI PRÓPRIO, EM TRÊS NOVOS FILMES.

Por Celso Sabadin.

Oficialmente, o cinema “nasceu” em 28 de dezembro de 1895. Seria, pois, capricorniano. Porém, deve existir alguma falha nesta informação, pois um dos assuntos preferidos do cinema… é ele próprio.  Apaixonado por se autorreferenciar, o cinema parece mesmo é ser leonino…

Elocubrações astrológicas a parte, o fato é que o cinema adora falar de si mesmo. Filmes como, Crepúsculo dos Deuses, Cantando na Chuva, Babilônia, Mank, Bom Dia Babilônia, Cinema Paradiso, A Invenção de Hugo Cabret, Cine Majestic, Trumbo, Testa de Ferro por Acaso, Era uma Vez em Hollywood e tantos e tantos outros abordando o tema provam que invariavelmente a metalinguagem na tela grande funciona muito bem.

Agora, só nesta virada de 2023 para 2024, mais três novos filmes que fazem da produção cinematográfica seus temas principais chegam ao nosso mercado: Making Of (na programação do Festival Varilux), O Retorno de Casanova (disponível no Festival de Cinema Italiano no Brasil), e O Melhor Está por Vir (entra em cartaz no circuito comercial na primeira semana de janeiro).

 

MAKING OF

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Estreado nos cinemas franceses em janeiro deste ano, Making Of fala de uma equipe cinematográfica que realiza um longa metragem ficcional a respeito de um caso real: uma grave crise trabalhista entre empregados e patrões de uma fábrica. Como quase sempre acaba acontecendo neste tipo de narrativa metalinguística, os conflitos do mundo filmado se embrenham e se espelham nos conflitos do mundo vivido, misturando e confundindo o encenado com o real.

O roteiro é de Fanny Burdino, Samuel Doux e do próprio diretor, Cédric Kahn, o mesmo de Feliz Aniversário e Vida Selvagem, exibidos recentemente nos nossos cinemas.

No elenco, Denis Podalydès, Emmanuelle Bercot e Stefan Crepon, entre outros. Destaque para Jonathan Cohen no papel de Alain, um ator famoso que teima em reescrever ele mesmo as cenas em que atuará, personificando o cômico (porém bastante real) arquétipo do galã egocêntrico.

Horários, sessões e mais informações em https://variluxcinefrances.com

 

O RETORNO DE CASANOVA

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A coprodução ítalo-francesa O Retorno de Casanova tem vários pontos em comum com Making Of. O principal deles é a interposição dos mundos real e ficcional do protagonista.

O sempre ótimo Toni Servillo (uma espécie de Ricardo Darín italiano) interpreta um veterano e prestigiado cineasta que, em depressão, não consegue finalizar seu trabalho mais recente: um longa que retrata a velhice do histórico galanteador Giácomo Casanova. A relação é clara: ambos – criador e criatura – estão sendo obrigados a se confrontar com a inevitável decadência.

O filme é uma livre adaptação do livro Casanovas Heimfahrt, que o escritor e médico vienenese Arthur Schnitzler publicou em 1918. É dele também o texto que originou o filme De Olhos Bem Fechados, de Stanley Kubrick.

A direção de O Retorno de Casanova é de Gabriele Salvatores, que ganhou destaque nos anos 1990 com Mediterrâneo e Puerto Escondido.

No elenco, além de Servillo, destacam-se Sara Serraiocco, Fabrizio Bentivoglio, Natalino Balasso e Antonio Catania.

Horários, sessões e mais informações em https://festivalcinemaitaliano.com

 

O MELHOR ESTÁ POR VIR

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Entre os filmes recentes que têm na atividade cinematográfica seu tema principal, o melhor está por vir: chega aos nossos cinemas no próximo dia 4 de janeiro o mais recente longa do sempre genial Nanni Moretti, Il Sol Dell’avvenire.  No Brasil, o título será O Melhor Está por Vir.

O próprio Moretti interpreta um cineasta envolvido na realização de um longa metragem ambientado em 1956. O tema não é dos mais comuns: a crise existencial vivida por membros do Partido Comunista Italiano após a União Soviética ter massacrado os húngaros na invasão a Budapeste, naquele ano.

Como só poderia acontecer, o personagem de Moretti também está passando pela sua própria crise existencial, na medida em que o veterano cineasta parece estar fazendo um tipo de cinema que não encontra mais acolhida no público de hoje. E mais: seu casamento também está desabando.

A genialidade do filme reside no fato de Moretti lidar com todos estes temas tão espinhosos de maneira deliciosamente ácida, sarcástica e – consequentemente – bem-humorada. Ainda que seja um humor dos mais agridoces.

Eu mesmo estou aqui me contorcendo para não escrever sobre duas ou três cenas absolutamente geniais desenvolvidas no filme, mas é melhor que o público espere por 4 de janeiro a receber spoilers de um trabalho tão brilhante.

Completam o elenco principal Margherita Buy, Silvio Orlando e Mathieu Amalric.

Será um grande início cinematográfico para o ano de 2024.