“O CORAJOSO RATINHO DESPEREAUX” TEM TRAMA E VISUAL REQUINTADOS.

Bastante lucrativos e com softwares cada vez mais acessíveis, os desenhos animados em longa metragem se constituem num mercado que nenhum grande (ou mesmo pequeno) estúdio de cinema quer ficar de fora. Mas é claro que não é fácil conseguir o padrão de qualidade da campeã Pixar Animation, nem os esquemas industriais e comerciais da campeã Disney. Muitos tentam, poucos chegam lá.

A boa notícia é que a estreante produtora inglesa Framestore, em parceira com a Univeral Pictures, quase conseguiram: O desenho “O Corajoso Ratinho Desperaux” pode não ser tão incrivelmente criativo quanto ao excelentes roteiros da Pixar, mas o resultado é dos mais satisfatórios.

Desperaux, o ratinho do título, nasceu com um “defeito” imperdoável para o universo dos camundongos: ele não sente medo. Desconhecedor pleno do significado desta palavra, ele enfrenta a tudo e a todos com a maior tranqüilidade, para o desespero de seus pais, professores, e de toda a comunidade. Novamente, a trama fala da valorização daquele que ousa ser diferente, daquele que se atreve a se destacar de seu grupo e sonhar. Foi assim em “Vida de Inseto”, “Formiguinhaz”, “Rattatouile”, “Os Incríveis’, “Shrek”.. enfim…

Ao invés de roer livros, Desperaux prefere lê-los, de forma que a natureza desbravatória do ratinho acaba sendo catalisada ainda mais pelas histórias de honra e bravura tiradas dos belos livros sobre cavaleiros, príncipes e princesas. Embriagado pelo prazer da literatura e catapultado pela sua congênita falta de medo, Desperaux se sente capaz de tudo. Até de salvar uma princesa humana.

O desenho é belíssimo. Utiliza as modernidades da tecnologia virtual, sem abrir mão dos preciosismos de técnicas mais antiquadas que envolvem – lembram? – aqueles velhos instrumentos chamados lápis, canetas e pincéis. Como tudo é ambientado na Idade Média, a direção de arte se esmera em criar luzes magníficas, majestosas peças de arquitetura gótica, e personagens que parecem ter saído de quadros clássicos. A Princesa, por exemplo, é puro Boticelli. Enquanto o líder maléfica das ratazanas tem tudo do expressionista “Nosferatu”, dirigido por Murnau em 1922. Um presente para os olhos de adultos e crianças.

Porém, talvez o público menorzinho – na faixa dos 4 ou 5 anos – tenha alguma dificuldade em acompanhar a trama desenvolvida a partir do livro de Kate Di Camillo. Sim, assim como o visual, o roteiro de “O Corajoso Ratinho Desperaux” também é sofisticado, dando um banho de 20 a zero em “Bolt”, por exemplo. Mas os maiorzinhos – e também os adultos – provavelmente vão apreciar.

Se tudo der certo, pode estar nascendo entre a novata britânica Framestore e a gigante Universal Pictures uma parceria com enorme potencial no segmento de longas metragens de animação. Longa vida a Desperaux!