“O DESEJO DA MINHA ALMA”, UM DOS FILMES MAIS TRISTES E BELOS DA TEMPORADA.

Por Celso Sabadin

Logo na primeira cena de “O Desejo da Minha Alma” já é possível perceber a carga da intensidade dramática desta belíssima produção japonesa: uma câmera nervosa, tensa e trêmula, persegue em planos fechados o desespero de um pequeno par de mãos tentando escavar os escombros de uma casa destruída. Não é necessário muito tempo para o espectador atento fazer a ligação: Japão + escombros = terremoto. Ou tsunami, não importa. O que importa é a devastação. Uma devastação que jamais é espetacularizada pelo diretor Masakazu Sugita. Pelo contrário: não se vê terremoto, não se vê tsunami, aliás, mal se vê a casa. Ao centralizar toda a sua dramaticidade na figura da menina  Haruna (Ayane Ohmori), descartando qualquer possibilidade de exploração superficial de imagens espetaculares, midiáticas e/ou aterrorizantes, Sugita escancara sua bem-vinda opção de esmiuçar um outro tipo de devastação, esta ainda mais pungente: a perda de entes queridos, o abandono, o vazio. E o faz com talento e sutileza notáveis, principalmente se levarmos em conta que se trata de um diretor estreante.

Não bastasse a dor de Haruna, o roteiro – também de autoria de Sugita – ainda nos revela uma nova camada de dor: como dar a notícia para o irmão caçula, Shota (Ruku Oishi), que não tira dos lábios o delicioso sorriso infantil dos inocentes.

Óbvio, trata-se de um filme tristíssimo, provavelmente o mais doloroso da temporada, mas “O Desejo da Minha Alma” faz desta tristeza um belíssimo painel poético sobre relações familiares. Sem nenhum tipo de exploração sentimentaloide, e com a explícita exposição da rigidez e da fortaleza de caráter que tanto marcam a cultura japonesa. Além, é claro, de comprovar mais uma vez o talento que historicamente o cinema do Japão tem em trabalhar com crianças.

São impressionantes estes japoneses!

“O Desejo da Minha Alma” foi escolhido como o melhor filme no Geração Kplus do Festival de Berlim, uma premiação concedida por um júri juvenil.

 

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