“O DESPERTAR” EQUILIBRA COM TALENTO DRAMA E SUSPENSE.

Florence (Rebecca Hall de “Vicky Cristina Barcelona”) dedica sua vida a provar que fantasmas não existem. Escritora, pesquisadora, bonita e solitária, ela garante desmascarar qualquer trambiqueiro que tente mostrar o contrário. Até que Mallory (Dominic West) a contrata para resolver um estranho caso envolvendo o fantasma de um menino, num sombrio colégio inglês.

A sinopse sugere um simples filme de casa mal assombrada. Não é. Muito mais que provocar bons sustos, “O Despertar” provoca também uma reflexão sobre o ceticismo, a credulidade, e a nossa própria necessidade de acreditar em algo. Seja o que for. Estes temas ganham força quando ambientados com elegância nesta não menos elegante Inglaterra dos anos 20 proposta pelo roteiro. Uma “época de fantasmas”, como bem informa o letreiro inicial do filme, que lembra as milhões de vidas consumidas pela Peste e pela I Guerra Mundial.

É interessante notar como Florence é uma personagem bem construída. Uma mulher que luta com todas as forças para provar que não existe vida após a morte, e que cai em depressão cada vez que consegue seu intento. É a razão contra a emoção. O fim de uma era romântica que abre espaço para o desenvolvimento científico do século 20, mas que deixa as pessoas desamparadas diante de suas crenças. Ou de que necessitam acreditar. Logo nos primeiros momentos do filme, uma mulher enganada por charlatães esbofeteia Florence por ela ter desvendado a farsa, É a compreensível incongruência de quem prefere viver na ilusão a ter de enfrentar a dor da perda. A cena marcará todo o desenvolvimento da trama.

Nick Murphy (diretor vido da TV, estreante em cinema) proporciona uma direção de gosto apurado, que sabe trabalhar com nuances e subtramas, apoiado por uma eficiente trilha sonora onde felizmente o silêncio também é bem-vindo. Talvez algumas explicações excessivas no final possam tirar um pouco do brilho total da obra, mas não a ponto de derrubá-la de um patamar acima da média que ela consegue alcançar desde os seus primeiros momentos.

“O Despertar” atrai e tem elementos para satisfazer tanto ao fã do gênero terror, como também quem aprecia um bom drama humano.