“O DIA DEPOIS” RATIFICA O VIGOR DO CINEMA SUL COREANO.

Por Celso Sabadin.

O sempre surpreendente cinema sul coreano consegue novamente abrir sua caixinha de surpresas e encantar com uma dolorida história de amor… que poderá provocar tanto melancolia como risos nervosos.  Ao mostrar a história de Bongwan, proprietário de uma pequena editora, às voltas com três mulheres de seu relacionamento que inadvertidamente entram em rota de colisão, o drama “O Dia Depois” ratifica a qualidade do cinema que já há alguns bons anos vem sendo produzido na Coreia do Sul.

Entre um casamento de vários anos, uma amante possessiva, e uma jovem funcionária que o admira, Bongwan se vê incompetente em administrar suas emoções e relações pessoais, tornando-se o epicentro de um conflito emoldurado por pilhas de livros e discos que se apresentam estáticos e impotentes diante da patética condição humana.

A ambientação de “O Dia Depois” é de um preto e branco asséptico, quase futurista, onde as ruas estão sempre vazias, como que simbolizando o vácuo afetivo de um egocentrado personagem principal que, como se perceberá mais tarde, tem dificuldade até de se lembrar da protagonista de um marcante episódio na sua vida. Bongwan é fragmentado, partido e dividido emocionalmente, características sublinhadas por um roteiro de sequências não cronológicas que atraem pelo estranhamento. Fragmentação e estranhamento, aliás, que são marcas registradas do roteirista e diretor Hong Sang-soo, o mesmo dos premiados “Na praia à Noite Sozinha” e “Certo Agora, Errado Antes”.

Selecionado para Cannes e San Sebastian, “O Dia Depois” é um filme de clima hipnótico, um breve estudo da fragilidade humana diante das armadilhas do amor, do ciúme e da dor.