O DISTANCIAMENTO MATRIMONIAL DE “QUARTO 212”.

Por Celso Sabadin.

Ah, os mistérios e as delícias do voyeurismo, tema tão caro ao cinema, de “Janela Indiscreta” a “Allonsanfan”, passando por “Beleza Americana” e tantos outros! Pois o espiar pela janela está de volta em “Quarto 212”, longa escrito e dirigido por Christophe Honoré, o mesmo de “A Bela Junie” e “Metamorfoses”.

Sem nenhuma crise de consciência por trair seu marido (“é assim que o casamento dura, ela diz”), Catherine (Chiara Mastroianni), decide tirar férias da vida conjugal, mas não o suficiente para ir muito longe. Pelo contrário, ela faz a mala, sai de casa, atravessa a rua, e hospeda-se em um hotel que dá bem de frente para o seu próprio apartamento, onde o maridão Richard (Benjamin Biolay) ficou curtindo uma fortíssima de cotovelo. E de corno também, como não.

O distanciamento – pero no mucho – entre ambos abre espaço para uma série de reflexões filosófico-existenciais bem ao estilo do cinema francês, onde também não faltarão algumas boas doses de fantasia e bom humor, que ninguém é de ferro.

“Quarto 212” deu a Chiara Mastroanni o prêmio de melhor atriz na mostra Un Certain Regard, em Cannes além de uma indicação ao César 2020. Em cartaz nos cinemas.